Na Beira Da Tuia (CABOCLO CSLP 6010) - (1959) - Tonico e Tinoco
Amei
Amei, amei, amei, não quero mais amar
Amei, amei, amei, não quero mais amar
Porque chorei quem eu amei só me faz penar
Porque chorei quem eu amei só me faz penar
Brasileiro
Sou paulista de nascença mineiro de criaçãoÂ
Paulista por se violeiro, mineiro em ser folgazãoÂ
Goiano por ser vaqueiro, garimpeiro do grotãoÂ
Catarinense da gema da segunda geração ai, ai
Seringueiro do Amazonas já foi minha profissãoÂ
Honesto paraibano valente como LampiãoÂ
Jangadeiro lá da praia do Alagoas e MaranhãoÂ
Baiano na ligeireza nas horas de precisão ai, ai
Carioca por ser do samba é uma velha tradiçãoÂ
Pernambucano no frevo cantando minha cançãoÂ
Sou filho da serenata choroso no violãoÂ
Das festas bem brasileira das noites de São João ai, ai
No laço sou cuiabano, gaúcho por ser peãoÂ
Paranaense no braço plantei café e algodãoÂ
Sou caboclo brasileiro cumprindo a lei da naçãoÂ
Morando lá nas campinas do Brasil do meu sertão ai, ai
Segura A Saia
Instrumental
Â
João Palhaço
Já fazia quinze dia que o Pavilhão Maravilha trabalhava no cerrado.Â
O povo com ansiedade, pra vê tanta novidade atopetava o tabuado.Â
Vinha gente dos pinheiro, da fazenda, dos barreiro, lá do alto do grotão.Â
O circo pobre, pequeno chamava tanta atenção.Â
No trapézio tinha um moço, rodava que nem pião.Â
Tinha um mico corriqueiro dava dez salto no chão.Â
Tinha uma moça bonita chamava Chiquita e cantava com o violão.Â
Era tanta novidade que o povo com claridade com as palma tampava o espaço.Â
Só depois se esvaziava com o gargalhar que encantava do popular João Palhaço.Â
João Palhaço era levado, feioso, desengonçado, espirituoso nas piada.Â
CaÃa no chão, dava cambalhota. Era o enlevo das velhotas, das moça e das criançada.Â
Tava sempre sorridente, mostrando os tocos de dente naquela boca chupada.Â
Seus cabelos, quase branco, a gente enxergava os trancos da sua idade avançada.Â
Trabalhava com Chiquita, a moreninha bonita, a sua esperança da vida.Â
O que ele mais adorava, e todo esforço empregava por sua fia querida.Â
O dono da companhia, o velho seu Zecaria , era louco por Chiquita.Â
Por isso vivia amando, pra moça se declarando só com palavras bonita.Â
João Palhaço, traquejado, caboclo muito viajado, começou a compreenderÂ
Chamou sua filha querida: - Vamos deixar essa vida, e deu toda explicação
Chiquita dando risada: - Meu pai num acontece nada pro seu Zecaria não dou atenção.Â
João Palhaço coitado se condenava o culpado do vÃcio da mocinha.Â
Quantas vez ele chorava quando a sua cara pintava no canto da barraquinha.Â
Era Sábado de Aleluia, noite de muita buia. O circo tava lotado.Â
Os gritos de todo lado, que nem berreiro de gado, perfurava o espaço.Â
De toda boca se ouvia numa só voz que repetia: - Que venha logo o João Palhaço.Â
Na barraca de Chiquita alguma coisa esquisita acabava de acontecerÂ
O danado Zecaria, criminoso e sangue fria e picado de paixão,Â
estrangulou sua amada com a fúria desesperada das onças lá do sertão.Â
O povo tava inconsciente, já reclamando impaciente o principiar da função.Â
A música toca um dobrado que nem dobre de finado tão triste de se escutar.Â
Nisto entra o João Palhaço trazendo a fia nos braço acabando de suspirarÂ
E dentro do picadeiro olhando pro circo inteiro de cabeça levantada.Â
Deu dois passo na frente e como um pobre demente deu terrÃvel gargalhada
Ri, platéia, ri, faça agora como eu faço. Ri, platéia, ri, da desgraça dum palhaço.Â
Foi soltando o corpo fria de sua querida filha na dura terra do chão.Â
E se rindo que nem louca foi cravando, pouco a pouco, uma faca no coração.Â
Caiu junto de Chiquita, beijando as faces bonita, e depois se estremeceu.Â
Foi desgraçada sua sorte, mas foi se rindo da morte que João Palhaço morreu.Â
Gaúcho Velho
A minha história é muito curta minha genteÂ
Em poucos versos conto tudo que se passaÂ
O que é preciso é mostrar unicamenteÂ
Que não há nada que eu queira fazer e não façaÂ
Fui convidado pra tocar minha sanfonaÂ
Numa festança lá pra banda de FaxinaÂ
Foi lá então que eu conheci uma certa donaÂ
Juro por Deus que era bonita aquela chinaÂ
Ai, Rio Grande
Ai que saudade lá dos bailes do galpãoÂ
Ai, Rio GrandeÂ
Essa saudade é amarga mais que o chimarrão
Gaúcho velho como eu criado a brutoÂ
Que não se enleva na maneia do amorÂ
Não sei porque que o coração deste matutoÂ
Caiu no pialo desse anjo encantador
Lá pelas tantas encilhei meu alazãoÂ
De légua em légua eu fazia upa-upa
Enquanto a turma churrasqueava no galpão
Eu levantei aquela china na garupa
Ai, Rio Grande,Â
Ai que saudade lá dos bailes do galpãoÂ
Ai, Rio Grande,Â
Essa saudade é amarga mais que o chimarrão
E depois disso vivo muito folgazão
No meu ranchinho pra banda de Vacaria
Já tenho alguém que me prepara o chimarrão
Ao chegar tarde no bater da Ave Maria
Ai, Rio Grande
Ai que saudade lá dos bailes do galpãoÂ
Ai, Rio Grande,Â
Essa saudade é amarga mais que o chimarrão
Sereno Da Madrugada
Sereno da madrugada como é tristeÂ
Uma voz que acompanha o som da liraÂ
Faz lembrar daqueles tempos já passadosÂ
Que minha alma de paixão ainda suspiraÂ
Eu também já fui amado e fui queridoÂ
Hoje eu vivo nesse mundo desprezadoÂ
Nem a morte me tira esta triste sinaÂ
Aqui acha um coração abandonado
Tu és rica de amor e pode gozarÂ
Eu sou pobre minha jura não tem valorÂ
Com orgulho tu despreza quem te ama
Algum dia sofrerá a mesma dor
Adeus mundo de ilusão e de mentiraÂ
Adeus morena seu desprezo é que me mataÂ
De saudade e de paixão eu vou morrendoÂ
Adeus, adeus, para sempre adeus ingrata
Rei Do Gado
Num bar de Ribeirão Preto eu vi com meus olhos essa passagemÂ
Quando o champanha corria a rodo nas altas rodas da granfinagemÂ
E logo chegou um peão trazendo na testa o pó da viagemÂ
Pediu uma pinga para o garçom que era pra rebater a friagemÂ
Levantou o almofadinha falou pro dono não tenho féÂ
Quando um caboclo que não se enxerga, num lugar desses vem pôr os pésÂ
Senhor que é o dono da casa não deixe entrar um homem qualquerÂ
Principalmente nesta ocasião que está presente o rei do caféÂ
Foi uma salva de palma, gritaram viva pro fazendeiroÂ
Que tem milhões de pés de café, por esse rico chão brasileiroÂ
O seu nome é conhecido lá no mercado dos estrangeiroÂ
Portanto vejam que este ambiente não é pra qualquer tipo rampeiro
Com um modo muito cortês responde o peão pra rapaziadaÂ
Essa riqueza não me assusta, topo em aposta qualquer paradaÂ
Cada pé desse café eu amarro um boi da minha boiadaÂ
Pra vocês todos eu garanto que ainda sobra boi na invernada
Foi um silêncio profundo, o peão deixou o povo mais pasmadoÂ
Pagando a pinga com mil cruzeiros disse ao garçom pra guardar o trocadoÂ
Quem quiser saber meu nome que não se faça de arrogadoÂ
É só chegar lá em Andradina e perguntar pelo rei do gadoÂ
Meu Sertão
O meu sertão, não posso esquecerÂ
Como é linda a madrugadaÂ
Vendo o dia amanhecer
Sabiá canta na mata, saracura no banhadoÂ
Seriema na cascata, juriti lá no cerrado
O meu sertão, não posso esquecerÂ
Como é linda a madrugadaÂ
Vendo o dia amanhecer
O caboclo brasileiro do sertão é naturalÂ
Vive com a natureza é o violeiro do luarÂ
O meu sertão, não posso esquecerÂ
Como é linda a madrugadaÂ
Vendo o dia amanhecer
Ele mora lá no mato no ranchinho beira chão
Vive com a natureza sinfonia do sertão
A Madrasta
Quando Inhá Rita morreu uma filha ela deixou
Seu Mendonça fazendeiro a segunda vez casouÂ
A madrasta ruim perversa muito da mocinha judiouÂ
A esperança da mocinha é que logo se casavaÂ
Com um moço da fazenda que há tempo namoravaÂ
A madrasta feiticeira com a sua falsidade
Desmanchou o casamento e a sua felicidadeÂ
A pobre moça chorava e a madrasta lhe bateuÂ
Reclamando triste a sorte no seu quarto recolheu
Preparando um veneno e chorando ela bebeuÂ
Chamando por sua mãe entre lamento morreuÂ
O seu pai que tanto amava deu a triste despedidaÂ
Olhando caixão sumindo da sua filha queridaÂ
Imaginando seu passado chorou lágrimas sentidaÂ
A tristeza pouco a pouco deu o fim na sua vida
A madrasta criminosa vive chorando até agoraÂ
Lá no pé da sepultura pede perdão e imploraÂ
Arrependida rezando pra Deus e Nossa SenhoraÂ
Do remorso e do pecado a madrasta também chora
Me Leva
Me leva, me leva, me leva, meu bemÂ
Me leva, me leva eu quero ir tambémÂ
Amanhã cedinho vou pegar o tremÂ
Eu parto sozinho não levo ninguémÂ
A minha pousada vai ser em BelémÂ
Adeus morenada até o ano que vem
Me leva, me leva, me leva, meu bemÂ
Me leva, me leva eu quero ir tambémÂ
Enxugue teu pranto não chore meu bemÂ
Despedida é triste quando ama alguémÂ
Um parte chorando outro chora tambémÂ
Adeus morenada até o ano que vem
Me leva, me levaÂ
Me leva, meu bemÂ
Me leva, me levaÂ
Eu quero ir tambémÂ
Firmeza de amor isso você temÂ
Já fiz juramento não amar ninguémÂ
Deixo meu retrato levo o seu tambémÂ
Adeus morenada até o ano que vem
Carro De Boi
Meu velho carro de boi pouco a pouco apodrecendoÂ
Na chuva, sol e sereno sozinho aqui desprezadoÂ
Hoje ninguém mais se lembra que você abria picadaÂ
Abrindo novas estradas formando vila e povoadoÂ
Meu velho carro de boi, trabalhaste tantos anoÂ
O progresso comandando no transporte do sertãoÂ
Hoje é um traste velho apodreceu no relentoÂ
No museu do esquecimento na consciência do patrãoÂ
Meu velho carro de boi a sua cantiga amargaÂ
No peso bruto da carga o seu cocão ringidorÂ
Meu velho carro de boi quantas coisas você retrataÂ
A estrada e a verde mata e o tempo do meu amorÂ
Meu velho carro de boi é o fim da estrada cumpridaÂ
Puxando a carga da vida a mais pesada bagagemÂ
E abraçando o cabeçalho o nome dos boi dizendoÂ
O carreiro foi morrendo chegou no fim da viagemÂ
Curitibana
Eu vou parti ai nessa madrugadaÂ
Vê minha namorada que mandou me chamar
Eu vou pega minha besta ruanaÂ
Trago a curitibana que está no ParanáÂ
Adeus, adeus minha companheiradaÂ
Olhem minha boiada até quando eu voltar
Eu vou buscar a cabocla serranaÂ
Linda curitibana com quem vou me casar
Quando cheguei vendo o golpe doÃdoÂ
Ela tinha morrido para o céu foi moraÂ
Quanto chorei minha sorte tirana
Adeus, curitibana e adeus Paraná
Músicas do álbum Na Beira Da Tuia (CABOCLO CSLP 6010) - (1959)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Amei | Noel Rosa / Tonico / Tinoco | Cururu |
Brasileiro | Tonico / Motinha | Cateretê |
Segura A Saia | Pirigoso / Tonico / Tinoco | Xote |
João Palhaço | AbÃlio Vitor | Declamação |
Gaúcho Velho | Helivelto Martins / Pedro De Almeida | Xote |
Sereno Da Madrugada | Tonico / Tinoco | Valsa |
Rei Do Gado | Teddy Vieira | Moda De Viola |
Meu Sertão | Tonico / José Lopes | Toada |
A Madrasta | Chiquinho / Zé Paioça | |
Me Leva | Priminho / ElpÃdio Dos Santos | Valsa |
Carro De Boi | Tonico | Toada Balanço |
Curutibana | Pirigoso / Tonico / Tinoco | Cana-verde |