Recordação Sertaneja (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9021) - (1960) - Tonico e Tinoco
Exemplo De Fé
Dia oito de setembro fui com grande devoção
Na Aparecida do Norte contei minha situação
Sou pobre trabalhador tô passando privação
O meu filho tá doente não tenho nenhum tostão
Pedi pra nossa senhora com as força do coração
Que levasse o meu filhinho ou que desse a salvação
Ele nasceu aleijado arrastando pelo chão
Minhas lágrimas rolava por ver tanta judiação
Ó Senhora Aparecida eu tô aqui pra agradecer
De longe venho de joelho por meu pedido atender
Recebi seu milagre acabou o meu sofrer
O meu filho tá curado eu trouxe pra você ver
Ó Senhora Aparecida e o bom Deus nosso Senhor
O meu filho tá curado minha vida endireitou
Atenda todos pedidos dos doentes sofredor
Padroeira do Brasil mãe de todos pecadores
Camisa Preta
Naqueles ermos deserto eu fiquei mesmo espantado
Quando avistei um ranchinho tão velho tudo escorado
E um caboclo rezando no chão tava ajoelhado
Trazia sua camisa preta de luto fechado
Senti uma coisa estranha que moveu meu coração
Cheguei chamei o caboclo perguntei qual é a razão
Caboclo respondeu sem tirar o olho do chão
Venha mais perto seu moço você vai sabe a razão
De me vê aqui sozinho nesta triste solidão
Por essa camisa preta que muito tenho chorado
É o maior significado de quem não posso esquecer
Todo dia de tardinha que começa escurecer
Venho fazer minha prece a quem não posso mais ver
Foi esta camisa preta que escondeu minha alegria
Que meu coração sentia nunca mais posso cantar
Eu vivo triste sozinho passo o tempo a soluçar
Um consolo procurando que só Deus que pode dá
Por esta camisa preta que eu trago cobrindo o peito
É um sinal de respeito da mais triste despedida
Quem guiou o primeiro passo a quem devo a minha vida
Morreu aqui neste rancho minha mãezinha querida
Lar Feliz
Desejo apenas que Deus abençoe meu lar que se acha em festa
Com o nascimento de quem veio enriquecer minha casa modesta
Bem sei que o nosso dever é crescer, casar e multiplicar
Eis a razão por que agora encontrei mais prazer em viver e amar
Ao sentir a maior emoção que eu tive
Quis sorri, mas confesso que não me contive
Hoje eu vivo a cantar esses versos que eu fiz
Em homenagem à imagem de alguém
Que nasceu pra me fazer feliz
Ai, Meu Bem
Eu não sei se canto ou choro, eu não sei qual é o melhor
Se cantando eu fico triste, chorando será pior
Ai, ai, ai, ai, meu bem, você diz que vai e vai
Se você vai, eu vou também
Valei-me nossa senhora dai juízo a quem não tem
Dá juízo àquela ingrata pra tornar a me querer bem
Ai, ai, ai, ai, meu bem, você diz que vai e vai
Se você vai, eu vou também
A folha do lírio vira eu também quero virar
Você sabe que eu sou seu, não precisa suspirar
Ai, ai, ai, ai, meu bem, você diz que vai e vai
Se você vai, eu vou também
No alto da samambaia lírio roxo deu semente
Você faz carinho aos outros,sabendo que a gente sente
Ai, ai, ai, ai, meu bem, você diz que vai e vai
Se você vai, eu vou também
No tempo que eu te amei foi tempo pra padecer
E eu não quero mais amor que não saiba compreender
Ai, ai, ai, ai, meu bem você diz que vai e vai
Se você vai, eu vou também
Morte Da Caboclinha
Ai, como é triste a saudade, em meu peito quanta dor
Mataram a caboclinha me deixaram, me deixaram sem amor
Quem matou a caboclinha foi o Juca traidor
Por ela não ter jurado pelo Juca traiçoeiro seu amor
No dia doze de junho com o Juca eu me encontrei
Lhe cravei um punhal no peito, foi assim, foi assim que eu me vinguei
Chora minha pobre mãe nas grades de uma prisão
Oh meu filho, a caboclinha foi a tua, foi a tua perdição
Filho De Carpinteiro
Era um pobre carpinteiro, mal vivia do dinheiro
Que lhe dava a construção, tinha um filho jornaleiro
Labutando o dia inteiro, ajudava o ganha pão
Jornaleiro olha o jornaleiro, jornaleiro
Quando amanhece o dia, o coitadinho saía
Com o frio da madrugada, anunciando a novidade
Do sertão e da cidade gritando pela calçada
Jornaleiro olha o jornaleiro, jornaleiro
Quem via aquele menino magrinho bem pequenino
Pé no chão esfarrapado, o povo sempre ajudava
Seus jornais tudo comprava do pobrezinho, coitado
Uma tarde de setembro triste fato acontecia
Um pobre homem coitado a sua vida perdia
Do último andar de um prédio um carpinteiro caía
Jornais todos anunciavam a notícia no outro dia
Jornaleiro olha o jornaleiro, jornaleiro
Pobrezinho jornaleiro anunciando o dia inteiro
Sem destino lá se vai, sua lágrima rolava
Quando em voz alta gritava a morte do próprio pai
Jornaleiro olha o jornaleiro, jornaleiro
Olha o jornaleiro
Mãe, Sempre Mãe
Meu pai quem é essa velha, que anda pela calçada
Servindo assim de chacota para toda a molecada
Coitada, parece mártir, sofrendo sem dizer nada
Meu filho já tem idade para saber do teu passado
Essa velha que hoje sofre tem seu destino traçado
Por deixar o seu marido e um filho abandonado
Nunca eu quis dizer nada, porque era um menino
Mas agora que é grande, saberá meu desatino
Essa velha é tua mãe te deixou bem pequenino
Eis, meu filho, a triste história, a quem dás tu a razão
A teu pai que foi honrado ou a ela o teu perdão
Responde filho querido quero ver teu coração
Meu pai, mãe é sempre mãe, nossa imagem tão querida
Como queres que eu despreze, ela que me deu a vida
Amarei eternamente, mesmo sendo uma perdida
Canoeiro
Domingo de tardezinha eu estava meio à toa
Convidei uns companheiros pra ir pescar na lagoa
Levamos rede de lanço, ai, ai, fomos pescar de canoa
Eu levei meus preparos pra dá uma pescada boa
Saímos cortando água na minha velha canoa
A garça avistei de longe, ai, ai, chega perto ela voa
Fui descendo rio abaixo, remando minha canoa
Eu entrei numa vazante, fui sair noutra lagoa
É o remanso do rio pardo, ai, ai, onde o pintado amoa
Pra pegar peixe dos bons, dá trabalho e a gente soa
Eu jogo timbó na água com isso o peixe atordoa
Jogo a rede e dou um grito, ai, ai, o dourado amontoa
O rio estava enchendo muito fui encostando a taboa
Acompanhei a maré, e encostei minha canoa
Cada remada que eu dava, ai, ai, dava um balanço na proa
Adeus Bela
Adeus bela, engraçada morena, bela virgem destes sonhos meus
Eu parto chorando e tu ficas acenando o lencinho do adeus
Vou deixar uma triste lembrança é o som dessa valsa de dor
Lembrando da jura em criança que fizemos para o nosso amor
Quando tu vai rezar na capela entre a vela, orando ao Senhor
Sentirá o remorso no peito por ser grande traiçoeira do amor
Quando a rola gemer à tardinha quando o dia chegará no fim
No silêncio da noite sozinha em soluço recorda de mim
Você Sabe Onde Eu Moro
Você sabe aonde eu moro na casinha que eu adoro
Fica lá no meu sertão
Apesar de ser pequena ainda cabe uma morena pra
Alegrar meu coração
De manhã quando eu levanto eu já olho em todos canto
Sinto logo uma saudade
Os passarinhos cantando parece que tá falando
Foi-se embora pra cidade
Quando eu olho no canteiro que eu plantei em fevereiro
Eu me lembro de uma flor
Essa flor é a cabocla que me deu um beijo na boca
Pra dizer que tinha amor
Terminei as empreitada agora não faço nada
No meu rancho de sapé
De que vale eu ser roceiro possuí tanto dinheiro
Sem amo de uma mulher
Se ela passasse um dia na hora da Ave Maria
Eu dizia só pra ver
Volte um pouco aqui morena que essa casa é bem pequena
Mais dá bem pra nós viver
Sertão Do Laranjinha
No sertão do laranjinha escute o que eu vou dizer
Foi um causo verdadeiro que eu vou contar pra você
O senhor Francisco Neves tinha muito bom viver
Levou cachorrada e armas que podiam lhe valer
E o sertão do laranjinha lá foi ele conhecer
Um dia de tardezinha era já no escurecer
Veio a caçula correndo a chorar e a tremer
Ai, mamãe vamos embora se nós não quisermos morrer
Que papai e meus irmãos ai, mamãe nem posso crer
Tão na batalha de bugres e é impossível de vencer
Mas a mãe desesperada nem não pode se conter
Correu e pegou uma arma pra a sua gente defender
Ela pegou a espingarda manobrando sem saber
Mas parece que o destino veio pra lhe proteger
Cada tiro que ela dava fazia um bugre gemer
Os bugres tem capitão ela pode conhecer
No alto de uma peroba fazia os outros ferver
Ela puxou o gatilho a fumaça nem deixou ver
Ele já se despencou ai, desceu mesmo sem querer
O sinal que fez na terra não vai desaparecer
Vendo o capitão já morto saíram os bugres a correr
Francisco Neves ferido tava atrás de um pé de ipê
Ele junto com os três filhos pra não chegar a morrer
No sertão do laranjinha até costumam dizer
Só por milagre divino é que podia acontecer
Tempo De Amor
Vai embora pra bem longe minha antiga namorada
Só vai ficar por lembrança o seu rastinho na estrada
Nunca mais abre a janela para ouvir minha toada
Venho dar a despedida neste cruel madrugada
Eu vou morrendo sozinho por não querer mais ninguém
A minha triste viola morre comigo também
Só vou deixar por lembrança este versinho pra alguém
Quem tem amor tem ciúmes quem tem ciúmes quer bem
A lua vai despedindo com a voz do cantador
O sereno vai sumindo deixando cálida flor
O dia já vem rompendo mais aumenta a minha dor
Sepultando a serenata do nosso tempo de amor
A Marca Da Ferradura
Vou contar o que aconteceu com um rico fazendeiro
Um homem sem religião o seu deus era o dinheiro
Foi assim que ele disse no meio dos companheiros
Na Aparecida do Norte que é a terra dos romeiros
Na igreja entro à cavalo neste meu burrão ligeiro
Quem quiser fazer uma aposta tenho muitos mil cruzeiros
Ele teve uma resposta sem demora ali no meio
Dum velhinho religioso que lhe deu este conselho
Na Aparecida do Norte nós devemos ir de joelho
No coitado do velhinho ele já surrou de reio
Quero mostrar pra vocês que de nada não receio
Saio daqui no meu burro só no altar que eu apeio
Ele saiu de viagem na Aparecida chegou
Era de manhã cedinho quando a missa começou
Chegando no pé da escada o seu burrão refugou
Sua espora sangradeira sem piedade funcionou
O burro foi judiado mais na igreja não entrou
O que o dono não respeitava seu burrão respeitou
Esta cena verdadeira muita gente presenciou
O burro deu um corcovo o seu dono ele matou
O dinheiro compra tudo, mas a morte não comprou
A alma do fazendeiro com certeza não salvou
Bem na porta da igreja onde o burrão refugou
A marca da ferradura lá na escada ficou
Besta Ruana
Tinha uma besta ruana pus o nome de princesa
Outra igual não existia cem léguas na redondeza
Eu no lombo da ruana já fiz mais de mil proezas
Minha besta marchadeira era mesmo uma beleza
Eu tratava da ruana com toda a delicadeza
Se estourava uma boiada eu juntava na certeza
Atravessava o rio pardo sem medo da correnteza
Essa besta marchadeira ligeira por natureza
Um dia chegou a desgraça no atalho da represa
Caí numa pirambeira a ruana ficou presa
A besta quis levantar, mas lhe faltou a firmeza
E quebrou as duas pernas e acabou minha princesa
Passei a mão na garrucha, apontei com bem firmeza
A ruana relinchou como em jeito da defesa
Vi as lágrimas correr, aí do olho da princesa
Matei ela com dois tiros depois chorei de tristeza
Abri uma sepultura enterrei minha riqueza
Fiz uma cruz de pau d'alho deixei quatro vela acesa
Na cruz eu fiz um letreiro escrevi com bem clareza
Matei pra não ver sofrer a minha saudosa princesa
Msicas do lbum Recordação Sertaneja (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9021) - (1960)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Exemplo De Fé | Tonico / Tinoco / Anacleto Rosas Júnior | Cururu |
Camisa Preta | Sebastião De Oliveira | Toada |
Lar Feliz | Francisco Ávila | Valsa |
Ai, Meu Bem | Geraldo Costa / Piraci | Cateretê |
Morte Da Caboclinha | Tonico / Tinoco | Toada |
Filho De Carpinteiro | Tonico / Zé Paioça | Toada |
Mãe, Sempre Mãe | Tonico / Cotico | Toada |
Canoeiro | Zé Carreiro / N. Caporrino | Cururu |
Adeus Bela | Tonico / Tinoco | Valsa |
Você Sabe Onde Moro | Geraldo Costa / Piraci | Cateretê |
Sertão Do Laranjinha | Tonico / Tinoco / Capitão Furtado | Moda De Viola |
Tempo De Amor | Mário Checo | Valsa |
A Marca Da Ferradura | Lourival Dos Santos / Riachão | Toada |
Besta Ruana | Tonico / Ado Benatti | Rasqueado |