Na Boca Dos Leões (KPL16027) - (1980) - Tião Do Carro e Mulatinho
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Na Boca Dos Leões
Um pagode importe que chegou em minhas mãos
É um sucesso mensageiro na praça em circulação
Percorrendo o universo e mostrando tradição
Saiu da boca de fogo, saiu bala de canhão
Saiu um pagode quente saiu da boca do leão
O modelo do pagode saiu firme na escala
Invejoso sai da frente saiu do meio da sala
Saiu com água na boca saiu e perdeu a fala
Eu tenho corpo fechado não entra faca e nem bala
A minha fama saiu bonita festa de gala
Valentão saiu na rua saiu fazendo arruaça
Saiu batendo garganta saiu e fez ameaça
A rota do pega pega, polÃcia saiu na praça
Da minha ideia saiu um pagode bom de raça
Pros meus admiradores pagode saiu de graça
Entrei numa boca quente saiu um balaio de gato
A turma do deixa disso saiu no momento exato
Saiu gente atrás de gente saiu correndo pro mato
Eu saà da confusão daqueles caboclos chatos
Saiu de um poliglota pagode que eu arremato
Brinquedo De Esconder
Quando eu era criancinha três anos muito queria
O brinquedo de esconder mamãe ensinou-me um dia
Quase sempre atrás da porta onde ela se escondia
Mamãe era divertida comigo se distraÃa
Por todo canto da casa correndo eu a procurava
Ãs vezes pertinho dela passava e não enxergava
Cansava de procurar aborrecia e chorava
Mamãe vinha gargalhando e com beijos me agradava
Quando eu fiz cinco anos lembro bem do que passou
Mamãe foi pra sua cama de lá não se levantou
Minha casa encheu de gente lembro que papai chorou
Mamãe se escondeu de mim nunca mais ela voltou
Procurei por toda parte até mesmo atrás da porta
Papai chorando dizia mamãezinha logo volta
O brinquedo de esconder franqueza até me revolta
Quando moço eu entendi que mamãe já estava morta
Quem Despreza Será Desprezado
Um dia destes passado eu sentei pra descansar
Num mourão de uma porteira na saÃda do pomar
O sol ia avermelhando na horinha de entrar
Senti uma dor no peito uma vontade de chorar
Recordando de um passado que nunca mais voltará
Nossa vida é como um rio corre, corre sem parar
No lugar que a água passa nunca mais torna a passar
A dor que eu trago no peito não há meio de acalmar
Vou nas festas e canto modas procuro me disfarçar
Não tem dia que eu consiga passar sem de ti lembrar
Triste hora foi aquela que nós fomos se encontrar
Meu coração tem momento parece que vai parar
Dá pancada tão doÃda que eu não posso suportar
É duro fingir alegre com vontade de chorar
Este alguém que é culpado deste meu triste penar
Eu tinha plena certeza que era um coração leal
Seu rosto revela bondade o coração quem saberá
Julguei que a felicidade comigo vinha morar
A felicidade sai entra outra em seu lugar
A tristeza e a saudade nunca podem separar
Onde ela faz a morada pra sair dá o que pensar
Hoje você me despreza pra mim vai ser de amargar
Vou procurar lhe esquecer isto custe o que custar
Escreva o que eu estou dizendo e um dia você verá
Que o mundo dá tanta volta é um ditado natural
Mas hoje, ou mas amanhã eu sei que ela vai voltar
O arrependimento vem muito tarde chegaráÂ
Quem hoje dá o desprezo, amanhã receberá
Entre A Cruz E A Espada
Um casal idoso morava numa casa na beira da estrada
Tinha um filho de vinte e dois anos que vendia e comprava boiada
Muitas vezes voltava depressa outra viagem era mais demorada
Na ocasião o rapaz viajou e seus pais aguardavam a sua chegada
Um viajante as sete horas da noite bateu palma naquela morada
Quando a porta um senhor atendeu o viajante lhe pediu pousada
Trago muito dinheiro comigo pra seguir não conheço as estradas
Mas prometo que amanhã bem cedo no clarear do dia faço a retirada
Mas na hora que ele deitou ele ouviu uma conversa errada
Quando o velho falou em voz baixa nós estamos com a vida arrumadaÂ
Nesse cara nos damos um jeito ninguém viu ninguém sabe de nada
O viajante saltou a janela e na escuridão sumiu nas quebradas
Essa noite seu filho voltou a janela estava escancarada
Pra não incomodar os seus pais que já tinham idade avançada
Entrou pela janela e deitou quando foi lá pela madrugada
O velhão apalpou no escuro e a sua intenção foi realizada
Minha velha traga a lamparina a missão já está terminada
Quando a velha viu que era o filho deu um grito e caiu desmaiadaÂ
Hoje o velho está na prisão foi p0agar sua pena dobrada
E o filho foi pro cemitério deixando a mãe entre a cruz e a espadaÂ
Abre E Fecha
Trinta dias fecha o mês abre o lucro do patrão
Fecha a conta do empregado, advogado abre a questão
Abre a folha do processo fecha o dinheiro nas mãos
Magistrado fecha o livro, mas abre a voz da razãoÂ
Caloteiro fecha a boca quando entra na prisão
A gente fecha o dinheiro malandro abre a janela
Captura pega e fecha, sentença abre na cela
Fecha o caipora nas grades, cachorro prende na tela
Mas quem fecha o paletó, fecha a cara e amarela
A morte fecha a surpresa, mas não tem quem abre ela
Ricaço abre o tesouro fecha seus lucros reais
Abre um futuro brilhante e a fortuna fecha em paz
Mas sábio tudo lhe evita pra fechar os capitais
A justiça abre e fecha as portas dos tribunais
Meu pagode abre caminho e não fecha nunca mais
Tesoureiro abre o cofre fecha o dinheiro do abono
Abre com chave de ouro fecha a riqueza do dono
Minha fama chega e abre as portas do abandono
O caboclo abre os braços e fecha os olhos com sono
Meu pagode abriu sucesso, sucesso me pôs no trono
Por Amor Também Se Morre
A fazenda Três Lagoas daqui fica bem distante
Há muitos anos atrás deu-se um caso interessante
Um casal de namorado que se amavam bastanteÂ
Quando o velho descobriu daquele dia em diante
Proibiu a sua filha de sair todos instantes, ai
Amâncio era um moço com vinte anos de idade
Pobre, mas trabalhador confiante na felicidade
Queria casar com a Alzira moça de alta sociedade
O seu pai não consentiu por ser homem de vaidade
Amâncio bem desgostoso foi embora pra cidade, ai
O tempo foi passando quando ninguém esperava
Alzira caiu de cama sua mãe lhe maltratava
Toda hora e todo instante por Amâncio ela chamava
E na febre do amor com Amâncio delirava
Sua mãe sem compaixão ainda com ela raiava
Viram que ela morria Amâncio mandaram chamar
Que viesse a prevenir que era pra se casar
Pra livrar a sua filha de uma morte fatal
Amâncio desesperado voltou pra terra natal
E chegou na casa dela antes do galo cantar
Vestiram ela de noiva esperança não havia
Mas quando o padre chegou ela estava na agonia
Nos braços do seu amado a pobre moça morria
Toda vestida de branco do mundo se despedia
As flores do casamento seu triste caixão cobria
Não Vendo Esse Boi
Não vendo este boi por dinheiro nenhum
Ele é lembrança do que se foi ele não é um boi comum
Não insista meu amigo ele não está a venda
Vai ficar até o fim comigo ele é rei nesta fazenda
Uma vez foi preparado pra ser mostrado na feira
Tava bonito o danado foi o melhor boi da fronteira
No dia que foi premiado uma cabocla se aproximou
E quis lhe fazer um agrado quando pra mim ela olhou
Uma faÃsca de paixão me queimou naquela hora
Cutucou meu coração como se fosse espora
Por ela me apaixonei e foi minha companheira
Só deus sabe quanto gostei daquela cabocla faceira
Um dia o destino traiçoeiro levou a cabocla amada
A dor que sentiu este rancheiro foi pior que mim facadas
Esse boi foi o motivo de conhecer quem tanto amei
Olhando pra ele revivo o bom momento que passei
Flor Divina
Morena o seu amor francamente me domina
Eu vou enfrentar a morte na frente de carabina
Eu sou um ricaço forte e tenho libra esterlina
Meu nome eu escrevo a bala mas quando mineiro fala
Balanceia o chão de Minas, Madalena flor divina
Seu pai não quer o namoro porque você é menina
De homem bravo eu não corro eu topo qualquer rotina
Não aguento desaforo e não ando na surdina
Vai ser um deus nos acode comigo ele não pode
Valentão não me remina, Madalena flor divinaÂ
Vou fugir com meu amor pra mudar a tua sina
Se eu ganhar sou vencedor nisto ninguém imagina
Quero ser merecedor desta fada cristalina
No altar de uma capela eu quero casar com ela
Seu jeitinho me inclina, Madalena flor divina
Nós vamos pra bem distante num distrito lá de minas
Adeus campos verdejantes adeus floresta e campina
O nosso amor é bastante teu sorriso me fascina
A tua beleza é rara com dana não se compara
A sorte me determina, Madalena flor divina
Encontro Fatal
Vinte anos fazem que deixei meu lar
Na mais angustiante dor da falsidade
A dor foi tão cruel que fiz um papel de um homem covarde
Deixei o meu filho tão pequeno ainda
Saà como louco pelo mundo
Sinto lágrimas correr ao ouvir dizer que sou um vagabundo
Um certa noite eu estava bebendo
Lamentando a sorte da vida que passa
O moço que ouvia se fez meu amigo
Pra beber comigo pediu-me a taça
Dizendo seu nome, mostrou meu retrato
Apesar dos anos lembrei do passado
Aquele que estava junto a minha mesa
Era com certeza meu filho adorado
Contou-me sua vida com muita tristeza
Que seu pai com eles não morava mais
Quero que ele volte, mamãe ainda vive
Eu juro que tive pena do rapaz
Sabe quem eu sou assim respondi
Se quer minha benção aqui estarei
Eu sou seu pai, és meu filho querido
Mas com sua mãe não reconciliarei
Meu Carro É Minha Viola
Perguntaram se algum dia eu fui carreiro
Não senhor muito menos meu parceiro
É bastante diferente o nosso nome verdadeiro
Tião Do Carro e Mulatinho é apelido de violeiro
Nós dois não somos irmãos é somente companheiro
Na viola nós ponteia uma semana um ano inteiro, ai, ai
Â
Nosso carro nós não toca nas estradas
Só nas festas no meio das morenadas
A viola é nosso carro e as cordas é nossa boiada
São cinco juntas de boi e muito bem combinadas
A nossa vida carreira é uma vida delicada
O carro que nós correia é a viola bem afinada, ai, ai
Â
As cordas finas é os primeiros boi de guia
E as segundas são os bois da sobre-guia
Vem a prima e a requinta na puxada bem macia
A toeira é os bois de coice com a sua companhia
Canotilho é o cabeçalho os bois de mais garantia
Quando puxa todas juntas até o corpo se arrepia ai, ai
Â
Nosso carro nós trás muito conservado
Nós carreia com jeito e muito cuidado
Tem dias que canta alegre outros dias amargurado
As vez canta por prazer muitas vezes obrigado
O cocão é o nosso peito num dueto apaixonado
Nessa hora de trabalho eu deixo a tristeza de lado, ai, ai
Milagre Da Vela
Lá no bairro aonde eu moro um dia desses passados
Se deu um caso impressionante que ficamos admirados
Uma vizinha de casa que há tempo tinha enviuvado
Ficou ela e três filhinhos residiam num sobrado
O velho quando morreu deixou alguns cobres guardados
Â
Era meia noite e meia o relógio tinha marcado
E a viúva não dormia virando por todo lado
Quando quis pegar no sono escutou um forte chamado
Ela então reconheceu ai, que era a voz do seu finado
Vai acudir nossos filhos para não morrerem queimados
Â
A velha virou pro canto pensou que tinha sonhado
Quando a voz se repetia vai fazer o meu mandado
Ela levantou depressa e o quarto estava trancado
Arrombou entrou, ai num gesto desesperado
Uma vela sobre a mesa já com fogo no atoalhado
Â
Com o barulho da porta os meninos acordaram assustados
E a mesinha em labareda na cama estava encostada
Meus filhos pra esta vela se a força não tem faltado
Minha mãe quinze de agosto nós estamos bem lembrados
Que hoje completa um ano que papai foi sepultado
Campeão Do Estado
O Brasil inteiro está esparramado até no jornal foi anunciado
Que nós tá sendo campeões do estado e no cururu somos respeitados
Pra cantar modas de viola tá no Brasil separado
As modas que eu canto eu quem mesmo invento são modas pesadas e de fundamento
Canto moda alegre e de sentimento pra te chamar violeiro no tento
Quem canta perto de nós perde seu merecimento
Este cantador canta combatendo combater comigo ele sai perdendo
Quando ele me enxerga fica tremendo eu canto uma moda ele sai correndo
Não há violeiro que aguente o peso destes morenos
Essa moda eu fiz com muito cuidado não quero abater violeiro afamado
Tem um forgazão que é despeitado cantando feio e desafinado
Com microfone no peito e o colarinho ensebado
Este cantador nem que faça assim nem que vai ao céu depois torna vim
Tá que nem coruja lá no cupim ele perde a graça perto de mim
Por saber da minha fama por este Brasil sem fim
Músicas do álbum Na Boca Dos Leões (KPL16027) - (1980)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Na Boca Dos Leões | Capitão Pereira / Tião Do Carro | Pagode |
Brinquedo De Esconder | Carreirinho | Rancheira |
Quem Despreza Será Desprezado | Carreirinho | Cururu |
Entre A Cruz E A Espada | Carreirinho / Tião Do Carro | Querumana |
Abre E Fecha | Capitão Pereira / Tião Do Carro | Pagode |
Por Amor Também Se Morre | Sebastião Pereira Da Silva / Zé Carreiro | Moda De Viola |
Não Vendo Esse Boi | Victor Settanni | Toada |
Flor Divina | Sargento Juares Miranda / Capitão Pereira / Tião Do Carro | Pagode |
Encontro Fatal | Carreirinho / Mozart Novaes | Rancheira |
Meu Carro E Minha Viola | Carreirinho / Zé Carreiro | Cururu |
Milagre Da Vela | Carreirinho / Zé Carreiro | Moda De Viola |
Campeão Do Estado | Carreirinho | Cururu |