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Tião carreiro e Pardinho, os
extraordinários cantadores de pagode, são inegavelmente os maiores do gênero,
sendo merecidamente cognominados: Os Reis Do pagode. Seus números são alvo de toda
atenção, trazendo para bem perto desde o mais humilde admirador ao mais vaidoso
coronel. Todos os aplausos se multiplicam
cada vez mais, quer seja em circo, cinemas ou teatros as plateias estão
superlotadas, e os queridos artistas, às vezes, ficam forçados a repetirem seus
espetáculos em duas ou três sessões. Suas andanças são constantes,
fazendo-se apresentar em toda as cidades interioranas de São Paulo, Minas
Gerais, Mato Grosso, Goiás e Paraná. O sucesso de Tião carreiro e Pardinho é
sempre maiúsculo. Tião carreiro e Pardinho, moços
simples e amigos de todos, chegam a se misturar com a multidão admiradora, dada
a sua simpatia e naturalidade. Estão frequentemente com um sorriso nos lábio. Exclusivos da Gravadora
Chantecler, Tião Carreiro e Pardinho tem os seus discos rapidamente esgotados e
tudo o que fazem é pensando em proporcionar melhor qualidade artÃstica ao seu
imenso e amável público. João Borges. Texto extraÃdo do LP
Encantos da Natureza (1968)
Quando Cai A Chuva
Quando cai a chuva lembro meu bem que me abandonou
Partiu para bem distante em meus braços não mais voltou
Quando cai a chuva olhando as flores do meu jardimÂ
Lembro do meu benzinho que hoje vive longe de mim
Â
Quando cai a chuva aumenta mais meu dissabor Â
Por que a fria chuva me traz lembranças do meu amor
A noite era chuvosa e eu me lembro Â
Cruéis recordações me faz sofrerÂ
Recordo a hora, o mês, era uma noite de dezembro
Aquela noite, não consigo esquecer
Segui seus passos até a estação Â
E no momento que ela partia Â
As lágrimas que rolavam dos meus olhosÂ
Misturavam-se com a chuva que caÃa
Por isso quando cai a chuva
Molhando as flores do meu canteiro
Em meu quarto solitário
Minhas lágrimas molham a fronha do meu travesseiroÂ
Quando cai a chuva aumenta mais meu dissabor Â
Por que a fria chuva me traz lembranças do meu amor
Nascimento De Jesus
Quatro mil e quatro na era mosaica
Na terra judaica que Deus escolheu
O lar de Maria e seu companheiro
José Carpinteiro velhinho plebeu
Enquanto em coro os anjos cantavam
As glórias louvavam ao filho de Deus
No mês de dezembro no clarear o dia
No lar de Maria um anjo desceu
Dia de Natal ao manto do céu
O anjo Gabriel contente anuncia
Que vinha ao mundo Jesus querido
Deus tinha escolhido aquela moradia
O casal feliz de joelho no chão
Com dedicação o anjo diziaÂ
Foi Deus quem mandou eu vim lhe dizer
Jesus vai nascer nessa estribaria
E a meia noite um galo cantouÂ
No céu apontou um grande clarão
Os sinos tocando ao mundo anuncia
A estrela da guia na imensidão
Para noticiar aos santos pastores
E o criador da geração
Que lá em Belém já tinha nascido
O eterno e querido Jesus da salvação
Meu Pedido
Meu bom Jesus eu lhe peço humildemente
Me faça fugir da mente aquela ingrata mulher
Eu não consigo viver mais tranqüilamente
Gosto dela loucamente sei que ela não me quer
Este é um pedido de um caboclo apaixonado
Que ama desesperado com passado na lembrança
Pos a promessa que ela fez não foi cumprida
Minha alma está ferida já morreu minha esperança
Eu não pensava que ela fosse tão maldosa
Foi cruel e caprichosa tudo fez pra me engana
Eu simplesmente nela então acreditava
Nem se quer desconfiava que fingia ao me beijar
Eu já não posso agüentar este tormento
É demais meu sofrimento sei que estou chegando ao fim
Jesus querido eu que tanto te adoro de joelho te imploro
Não deixe eu morrer assim
Drama Da Vida
Tristonho vivo a procura quero de novo encontrar
Alguém que se despediu partiu pra não mais voltar
Hoje eu vivo no relento é um sofrimento sem ela ao meu lado
Nesse meu drama cruel represento o papel de um fracassado
Nesse meu drama cruel represento o papel de um fracassado
A gente quando é feliz deve amar e ter compreensão
Eu confesso que errei desprezei sem ter razão
Mandei meu amor embora hoje meus olhos choram esperança perdida
Dois corações que se ama padecem e reclamam no drama da vida
Dois corações que se ama padecem e reclamam no drama da vida
Se eu tivesse a certeza que ela voltasse pra mim
SaÃa a sua procura por este mundo sem fim
Se com outro ela tiver esta ingrata mulher vai me matar de dor
Meu coração não resiste o fim do drama é triste morrer por amor
Meu coração não resiste o fim do drama é triste morrer por amor
Quebra De Tabu
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Pra assistir um grande jogo certa vez fui convidado
Por ser bom corintiano meu povo fica de lado
Eu entrei na grande massa o povo tava lotado
A história de dez anos não me deixou assustado
O timão corintiano não partiu pro desespero
Porque é forte guerreiro, lutador e respeitado
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
O santos entrou no campo com pinta de campeão
A fibra corintiana fez rolar a bola no chão
Logo saiu uma bomba que parecia rojão
O grito de gol foi que saiu da boca da multidão
Até hoje tem um rei querendo encontrar a bola
Mas aceito a escola do nosso grande timão
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
O esquadrão corintiano demonstrava academia
Os nossos adversários a cor da bola não via
O timão ajustado mais um golaço fazia
Dando a fiel torcida momento de alegria
Estamos em vinte e seis de março no campo do Pacaembu
Foi quebrado o tabu que há muito tempo existia
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Demorou muito pra fazer o que ele fez
O timão ta embalado corintiano já tem vez
Aquela Ingrata
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua diga se ela está chorando
Se está sofrendo como eu também
Oh lua diga se ela está sozinha
Ou ela está nos braços de alguém
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua diga que eu estou penando
Só lamentando aquele triste adeus
Oh lua diga que não posso maisÂ
Viver ausente dos carinhos seus
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua que ilumina a verde mata
Me diga aonde foi aquela ingrata
Oh lua diga que a saudade
Pouco a pouco está me matando
Oh lua peça pra que ela volte
Por que meus braços estão te esperando
Encantos Da Natureza
Tu que não tiveste a felicidade deixa a cidade e vem conhecer
Meu sertão querido meu reino encantado, meu berço adorado que me viu nascer
Venha o mais depressa não fique pensando estou lhe esperando para lhe mostrar
Vou mostrar os lindos rios de águas claras e as belezas raras do nosso luar
Quando a lua nasce por detrás da mata fica cor de prata a imensidão
Então fico horas e horas olhando a lua banhando lá no ribeirão
Muitos não importam com este luar nem lembram de olhar o luar da serra
Mas estes não vivem são seres humanos que estão vegetando em cima da Terra
Quando o lua esconde logo rompe a aurora vou dizer agora do amanhecer
Raios avermelhados riscam o horizonte o sol lá do monte começa a nascer
Lá na mata canta toda a passarada e lá na palhada pia o chororó
O rei do terreiro abre a garganta bate a asa e canta em cima do paiol
Quando o sol esquenta cantam cigarras em grande algazarra na beira da estrada
Lindas borboletas de variadas cores vem beijar as flores já desabrochadas
Este pedacinho de chão encantado foi abençoado por Nosso Senhor
Que nunca nos deixa faltar no sertão saúde, união, a paz e o amor
Gaúcho Decidido
Vou buscar lá no Rio Grande minha china prometida
Amanhã de madrugada eu estarei de partida
Não posso viver ausente da minha prenda querida
Pois sem ela não consigo ser feliz na minha vida
No meu pingo marchador vou chegar abrindo ala
Vou buscar minha gaúcha pra ver se a saudade exala
Para minha garantia se alguém me pisar no pala
Vou levando meu revólver cinturão cheio de bala
Gaúcho que tem amor não tem medo do perigo
Na garupa do meu pingo quem eu amo vem comigo
Sei que ela não me esquece e esquecê-la não consigo
Quem ama sente saudade e a saudade é um castigo
Estou sentindo no peito o coração batendo aflito
Suspirando noite e dia por que vivo tão solito
Estou mesmo decidido buscar minha companheira
Ela terá que ser minha mesmo que seus pais não queiram
Retrato Do Boi Soberano
No braço desta viola quero contar quem eu sou
No meu tempo de menino este caso se passou
Fiquei ciente da história porque meu pai me contou
O velhinho foi falando com a voz quase apagando
Do seus olhos marejando duas lágrimas rolou
Meu filho nunca duvide do poder do Criador
O retrato de um boi preto nesta hora me mostrou
Esse boi é o Soberano que um dia lhe salvou
Não me sai mais do sentido quando vi você perdido
Na hora fiz um pedido e o milagre deus mandou
Na cidade de Barretos muita gente presenciou
O passar de uma boiada com destino ao matador
Repiquei o meu berrante quando a boiada estourou
Neste momento tirano você estava brincando
Quando o boi soberano na sua frente parou
Os gritos dos boiadeiros de muito longe escutou
A rua cobriu de poeira quando a boiada passou
Quem assistiu a passagem de emoção até chorou
Esse boi lhe defendia com tamanha valentia
Que até chorei de alegria e o povo se admirou
Esse caso do passado assim meu pai me contou
Do milagre acontecido eu fiquei conhecedor
Fui crescendo e fiquei moço hoje sou um cantador
Vou seguindo o meu destino e por um milagre divino
Eu sou aquele menino que o soberano salvou
Falsidade
Como o vento geme sobre o meu telhado
E a brisa sopra na minha janela
Revendo minha alma recordo o passado
São negras lembranças que me restam dela
Eu não lamento por sentir saudade
Meu sentimento é ver meu lar desfeito
Ficou ora sempre a cicatriz da falsidade
Ainda está grava dentro do meu peito
Talvez a morte possa lhe pagar
Da ingratidão que me maltrata tanto assim
A quero tanto quis até lhe perdoar
Mas o destino escreveu o fim
Vá pelo mundo e siga seu caminho
Quem muito escolhe tem sempre o pior
Às vezes com outra, às vezes sozinho
Levarei a vida que eu achar melhor
A mulher por cruel que seja
Não se faz vingança pelo que se foi
Enquanto for viva que deus a proteja
Depois de morta que Deus a perdoe
Caçador
Mandei fazer uma canoa fundo preto e barra claraÂ
Dois remos de guarantã e um varejão de guaiçaraÂ
Ai, ai a poita pesa uma arroba jogo na água o bote para
Tenho uma trela de cachorro, o marengo e a caiçaraÂ
A sua especialidade morre anta e capivaraÂ
Ai, ai solto os cachorros no rasto vai rebentando taquara
Eu tenho uma cartucheira de qualidade bem raraÂ
É uma dois canos tronchada que ate pranchão ela varaÂ
Ai, ai anta deita na fumaça na hora que ela dispara
A anta se pincha na água na correnteza não paraÂ
Vai com a cabeça de fora a dois canos já disparaÂ
Ai, ai a bicha prancheia n’água e só fisgar ela na vara
Do couro eu tranço um laço cabeça faz rédeas caraÂ
A carne eu vendo no açougue mas pro gasto nós separaÂ
Ai, ai também faço meus pagodes nas noites de lua clara
Pagode Do Ala
As flores quando é de manhã cedo o seu perfume exala
A madeira quando está bem seca deixando no sol bem quente estrala
Dois baianos brigando de facão sai fogo quando o aço resvala
Os namoros de antigamente espiava por um buraco na sala
As pessoas que são muda e surda é por meio de sinal que fala
Os grã-finos de antigamente quase que todos usavam bengala
A mochila de peão é um saco a coberta do peão é o pala
Nos casamentos de roça tem festa ocasião que o pobre se arregala
Presta atenção que o reio dói mais é aonde ele pega a tala
Divisa de terra antigamente não usava cerca era vala
Naturalmente um bom jogador todo jogo ele está na escala
Uma flor é diferente da outra pro cuitelo seu valor iguala
Caipira pode estar bem vestido ele não entra em baile de gala
Pra carregar o fuzil tem pente garrucha e o revólver tem bala
Um valentão tá arrastando asa, mas quando vê a polÃcia cala
Despista e sai de vagarinho quando quebra a esquina abre ala
Pra fazer viagem à bagagem geralmente o que se usa é mala
A baiana pra fazer cocada primeiramente o coco se rala
No papel o turco faz rabisco e diz que escreveu Abdala
As pessoas que morrem na estrada por respeito uma cruz assinala
Músicas do álbum Encantos Da Natureza (CONTINENTAL 171405605) - (1968)