Peão De Ouro (SERTANEJO 211405086) - (1961) - Pedro Bento e Zé Da Estrada

Peão De Ouro
Na cidade de Barretos depois da festa do peão
Pra cortar cabelo e barba foi entrando um folgazão
Só por trazer no bombacho a poeira do estradão
Que naquela barbearia teve uma decepção, ai

O dono da barbearia por ter certa posição
Na roda da sociedade quis desfazer do peão
Tirou o forro da cadeira faltando com a educação
Dizendo que os boiadeiros acostumam sentar no chão, ai

O peão respondeu eu não aceito lição
E topo qualquer parada na hora de precisão
Com prata do meu arreio eu compro qualquer salão
Com ouro da minha espora faz jóia pra tubarão, ai

O resto da minha traia é ouro fino dos bons
Com o sol o freio brilha na boca do Alazão
O peitoral é formado com vinte e seis argolão
Todos de ouro maciço tem mais seis no cabeção, ai

E falando com o barbeiro foi entregando um cartão
Com a marca peão de ouro rei de todas criação
E puxando a carteira sem fazer objeção
Forrou a cadeira inteira só cheque de milhão, ai

Zé Claudino
Você está vendo lá na beira da estrada
Uma tapera e uma roseira toda coberta de flores
Nunca me esqueço quatro anos que já fez
Foi num domingo do mês que esta história se passou

E ali morava o caboclo Zé Claudino,
Mas o malvado destino castigou o pobre rapaz
Numa trovoada, deu um raio no ranchinho
A mulher e seus filhinhos, Deus levou pra nunca mais

Às quatro horas dois caixões foram saindo
Devagar foram sumindo na curva do cafezal
E Zé Caludino, soluçava na janela
Enquanto o sino da capela não cessava de tocar

E a taperinha lá da beira da estrada
Hoje vive abandonada, já não tem mais morador
Essa casinha, tão humilde, tão modesta
Já foi um ninho de festa, hoje é um recanto de dor

Vai Embora
Vai embora, mulher vai embora
Eu não quero te ver jamais
Tudo isso que você me fez
Acredito que outra não faz

Quem jurou e depois não cumpriu
Só zombava e sorria de mim
Hoje segue um caminho errado
Eu não sou culpado em você ser assim

Vai embora mulher vai embora
Não procure quem já te esqueceu
Vai embora mulher vai embora
Para mim teu amor já morreu

Mineira De Uberaba 
Hoje eu lembro com saudade do meu tempo de solteiro
Fui buscar uma boiada no grande estado mineiro
Eu cheguei em Pouso Alegre dia três de fevereiro
Lá eu vi uma morena perdição de um boiadeiro

Ele disse que é mineira e nasceu em Uberaba
Se criou no campo afora lidando nas invernadas
Ela monta em burro bravo alegre dando risada
Pra pegar mestiço arisco nunca perdeu a laçada

Eu fui buscar uma vacada e o povo se admirou
Escapou uma vaca preta e a mineira acompanhou
A laçada bem certa, mas o laço arrebentou
Ela pegou a vaca a unha e sozinha derrubou

Eu convidei a morena pra ser minha companheira
Ela então me respondeu vivo muito bem solteira
Por dinheiro eu não me vendo eu também sou fazendeira
Se eu trabalho pra mostrar o valor de uma mineira

Ela fez a despedida foi numa segunda feira
Despediu e foi se embora numa besta marchadeira
Eu fiquei com a saudade da morena boiadeira
Nunca mais eu pude ver aquela linda mineira

Saudades De Alguém
A lua vem com seu luar de prata
E vem clareando toda imensidão
Dói a saudade que eu tenho no peito
Que fere triste o meu coração
Aquela ingrata me deixou sofrendo
E padecendo sem consolação
Só seu retrato que eu tenho guardado
Recordo o passado, quanta ingratidão
Só seu retrato que eu tenho guardado
Recordo o passado, quanta ingratidão

Eu já não toco mais em serenata
Emudeceu o meu violão
Não tem mais dama e nem batucada
Nas noites lindas de São João
Os tamborins já não tocam mais
Ficou tão triste o meu sertão
Desde a hora que vim embora
Os meus olhos choram, mas não volto não 
Desde a hora que vim embora
Os meus olhos choram, mas não volto não

Fim De Malandro
Certo dia num bar encontrei o malandro
Comendo e bebendo e desafiando
Com seus próprios amigos que estavam apreciando
Com uma navalha na mão relampeando
Só contava vantagem, falava bobagem
E aqueles caboclos estavam acreditando

Nessa hora cheguei pro malandro falei
Fiz minha obrigação como manada lei
Dei a voz de prisão pra aquele beberrão
Com uma navalha que eu encontrei
Dei um salto pra trás que nem satanás
No peito do cabra com dois pés pulei

O malandro era mesmo muito traquejado
Pulou para o lado para se defender
E me deu uma pernada pra ser acertada
Mas minha ligeireza que foi me valer
O meu punho de aço acertei o seu braço
Dei nele um repasso pro cabra aprender

Isto serve de exemplo pra muito caboclo
Bebe e fica louco e querem aproveitar
Não respeitando a lei vai para no xadrez
Sai andando de esgueio igual um tamanduá
Assim sofre um soldado cumprindo o mandado
Honrando a farda até a morte chegar

Boiadeiro Punho De Aço
Me criei em Araçatuba
Lançando potro, dando repasso
Meu velho pai pra lidar com boi
Desde de menino guiou meu passos!
Meu filho o mundo é uma estrada
Cheia de atalho, tanto embaraço
Mas se você for bom no cipó
Na vida nunca encontra fracasso

Com vinte anos eu parti
Foi na comitiva de um tal Inácio
Senti um nó me aperta a garganta
Quando meu pai me deu um abraço
Meu filho Deus lhe acompanha
São estes os votos que eu te faço
E como prêmio do seu talento
Lhe presenteio com este meu laço

Por este mundo afora
Fiz como faz a nuvem no espaço
Viajando ao leu conhecendo terra
Sempre ganhando dinheiro aos maços
Meu cipó em três rodilhas
Cobria a nuca do meu picaço
Foi o que me garantiu o nome
De boiadeiro punho de aço

De volta pra minha terra
Viajava a noite com o mormaço
Naquilo eu topei com uma boiada
Cortando o rio vinha passo a passo
E um grito de um boiadeiro
Pedindo ajuda cortou espaço
Eu vendo o peão que ia rodando
Saltei no rio com o meu picaço

A correnteza era forte
Tirei o cipó da chincha do macho
E pelo escuro ainda consegui
Laçar o peão por um dos seus braços
Ao trazer ela pra praia
Meu coração se fez em pedaços
Por um milagre que Deus mandou
Salvei meu pai com seu próprio laço

Barbaridade
Eu tava pescando peixe debaixo de um pé de embira
Peguei duzentos dourados e quatrocentas traíra 
Ainda me escapou peixe que até hoje me admira 

Num canudo de taquara eu achei uma abelheira
Com vinte arroba de mel, quatorze arroba de cera 
Do canudo da taquara fiz vinte e cinco peneira

Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade
Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade

Achei um ninho de pomba que eu fiquei admirado
Duzentos pombinhos andando e trezentos ovos gorados
Duzentos e vinte e cinco que não tinham descascado

Fui fazer uma caçada me lembro e quase desmaio
Foi só num tiro que eu dei matei trinta papagaios
E a bala veio de volta e matou meu cachorro baio

Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade
Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade

Domingo de tardezinha vi uma coisa interessante
Vinte e cinco formiguinhas carregando um elefante 
E o bicho de sentimento enforcou-se num barbante

Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade
Barbaridade isso é bom que mete medo 
Que mete medo é bom, isso é bom barbaridade

Chico Bento
Chico bento era um caboclo com um ano de casado
Desconfiou que sua mulher lhe trazia enganado
E pra ter uma certeza uma viagem ele inventou
E no mato se escondeu pra vingar do traidor

Quando foi tarde da noite viu um cavaleiro chegar
E apeou e bateu na porta e mulher mandou entrar
Ele louco de ciúme foi chegando devagar
Pela fresta da janela viu os dois sentados de a par

Ele derrubou a porta e três tiros disparou
Aquele corpo sem, vida estendido ali ficou
Foi a última palavra que o coitadinho falou
Meu filho que eu tanto amava por que foi que me matou

Chico Bento nesta hora não resistiu tanto dor
Vendo seu pai que morria que ele mesmo assassinou
Foi tão grande o seu remorso do erro que praticou
Pra pagar o seu pecado ali também se matou

Quando foi no outro dia no triste dobrar dos sinos
Todo povo acompanhava dois caixões que iam saindo
Na frente ia o velhinho que teve um triste destino
Criou com tanto carinho o seu próprio assassino

Rei Da Capa
La pras bandas de Barretos na maior zona de gado
Foi berço de criação de peões afamados
O Petico e Gomercindo, Zé Pretinho e Colorado
Quatro heróis do arreio pelo povo consagrado
E foi neste mesmo mapa
Que nasceu o rei da capa campeão de dois estados, ai

O Turquinho e um toureiro de talento e suporte
O seu nome conhecido desde o sul até o norte
Para sair vitorioso nunca dependeu da sorte
Era um caboclo de confiança destemido e muito forte
Pra lutar com boi selvagem
É um peão de coragem que não teme a própria morte

Nasceu em Jaborandi o mundo guiou seus passos
Abandonou os estudos pela inclinação do laço
Nessa lida tão pesada nunca encontrou fracasso
Enfrenta qualquer perigo com muito desembaraço
Sem mostrar muito serviço
Ele faz qualquer mestiço ficar preso nos seus braços

No estado de São Paulo teve pouco paradeiro
Atravessou a montanhas do grande estado mineiro
De cidade em cidade orientava os companheiros
Demonstrando seu valor de campeão dos picadeiros
O Turquinho é um homem
Que sabe honrar o nome de paulista e Boiadeiro

Mulher Do Feiticeiro
Vou contar pra você este fato verdadeiro
Se passou em Pitangueira nos meados de janeiro
A notícia correu longe andou o Brasil inteiro
Que a polícia prendeu o malvado feiticeiro

E o negro era casado tinha sua companheira
Prenderam o preto velho, mas deixaram a feiticeira
Ela transou os pauzinhos queimou chifre a noite inteira
Depois foi soltar o preto na noite de sexta-feira

Quando saíram na rua foi aquela estripulia
Encontraram um caçambeiro que ia indo pra olaria
Deram tanto no coitado caçambeiro não devia
Pensando que era o tal que lhe prendera outro dia

E a agora a feiticeira mudou pra Itapetininga
Mora num ranchinho velho lá no alto da restinga
Ela fica o dia inteiro azeda a bebendo pinga
Levou uma grande surra e largou de fazer mandinga
Levou uma grande surra e largou de fazer mandinga

Falso Amor
Meu coração está desesperado
Não compreendo por que não me quis
Por tudo culpa vivo amargurado
O teu desprezo me fez infeliz

Estou sofrendo sem o teu amor
Por tua causa vivo eu bebendo
O meu desgosto é te ver com outro
O teu prazer é me ver padecendo

Vou desfazer-me da melancolia
Vou pra bem longe pra te esquecer
As tuas juras foram fantasias
Teu falso amor só me fez padecer

Irei embora para bem distante
Com esta mágoa em meu coração
Porém espero que teu novo amante
Te faça um dia a mesma ingratidão

Desiludida tu irás lembrar
Aquele amor que um dia te ofertei
Então teus olhos irão derramar
Os mesmos prantos que já derramei

A minha sombra seguirá teus passos
Como remédio pra tua paixão
Lamentarás então nosso passado
Há de morrer na triste solidão

Músicas do álbum Peão De Ouro (SERTANEJO 211405086) - (1961)

Nome Compositor Ritmo
Peão De Ouro Pedro Bento / Sebastião Santana Recortado
Zé Claudino Carreirinho / Zé Da Estrada Toada
Vai Embora Pedro Bento / Cacheirinho Rancheira
Mineira De Uberaba Paiozinho / Zé Tapera Cateretê
Saudades De Alguém Pedro Bento / Zé Da Estrada Corrido
Fim De Malandro Zé Da Estrada / Zé Goiás Cururu
Boiadeiro Punho De Aço Teddy Vieira / Pereira Moda de viola
Barbaridade Walter Amaral Corrido
Chico Bento Pedro Bento / Paiozinho Toada
Rei Da Capa Pirassununga / Benedito Seviero Moda de viola
Mulher Do Feiticeiro Priminho / Roque De Almeida Cururu
Falso Amor Eurides Reis / Pedro Bento Toada
Compartilhe essa página
Aprenda a tocar viola, acesse Apostila de Viola Caipira Material de qualidade produzido por João Vilarim