Mãe Amorosa (CONTINENTAL CLP 9140) - (1972) - Pedro Bento e Zé Da Estrada

Mãe Amorosa
Você já sabe qual o nome que eu adoro
E todos nós tem orgulho em dizer
É o nome de uma imagem tão querida
E que nunca nós devemos esquecer

É o nome da nossa velha mãezinha
É um tesouro pra quem sabe compreender
Que lutou tanto e por nós sofreu calada
E são bem poucos os que sabem reconhecer

Quando os filhos estão todos pequeninos
As pobres mães sem pensar em padecer
Pra não deixar faltar nada pros filhinhos
Elas trabalham muitas vezes sem poder

Se ela é rica ela tem todos conforto
Mas se ela é pobre muitas vez tem que sofrer
Ela passa os trabalhos e não reclama
E tem orgulho em ver os seus filhos crescer

E depois que seus filhos estão criados
Vem o destino logo para interromper
Um se casa e outros vão para longe
Sempre deixando seu coração a doer

Um coração que vive cheio de saudade
De quem foi embora e demora pra se ver
Entre soluço ela se fecha num quarto
E seu consolo é ter as lágrimas a correr

Como é bonito chamar o nome de mãe
E satisfeita ela vem nos atender
É um nome que na vida eu mais adoro
Sendo ela a razão de nós viver

É mesmo que adorar Nossa Senhora
Que está no céu para sempre nos valer
Despreza ela em não ouvir os seus conselhos
Este pecado eu não levo quando eu morrer

Violeiro Gordo
Fui cantar numa festa em terras estranhas
Cortamos atalhos por trás das montanhas
Lá já me disseram vocês não me estranha
Notícia que corre aqui é que vocês dois apanha
Pois o tal desafio tinha fama tamanha
Os homens chegaram contando façanha
Diz que é mais de cem desafios que eles ganha

A fama de valente estava esparramada
De espora e bombacha com peito embolado
Falando tão grosso tão entusiasmado
Chicote no braço e chapéu atolado
Me pediu que eu cantasse um verso dobrado
Bati a viola bem arrepicado
Saudei o festeiro e todos convidados

Pois tiraram a viola de um saco de meia
As mocinhas falaram que viola mais feia
Entraram berrando que nem uma sereia
Umas moda gritada que doía as orelhas
Pois pensou que com berro nós já desnorteia
Falaram burrada uma hora e meia
Cantava dançando igual porca na peia

Eu chamei o festeiro dentro do salão
O senhor não repare da nossa expressão
Desafio numa festa e boa diversão
Mas eu não gostei desses dois folgazão
Eu notei que esses homens não tem instrução
Maltratar um colega sem haver razão
Eu preciso lhe dar uma boa lição

Esse violeiro gordo eu comparo a um mourão
E esse magrelo uma mão de pilão
O que tem a voz grossa eu comparo um trovão
O da voz mais fina eu comparo um rojão
Que sobe um pouquinho com muita aflição
Vai soltando fogo fazendo explosão
No fim os dois vem e arrebenta no chão

Esses foi um dos versos dos mais inferior
Não dei mais descanso pros dois cantador
Não sou estudado, não sou professor
Mas sei meu lugar e também dar valor
Não desprezo ninguém muito menos o senhor
Que vem de tão longe fazendo furor
Olhei no salão não vi mais os cantor

Sertanejo Solitário
Eu moro num campo triste onde o rio faz um remanso
Toda as tardes eu penso a vida, no terreiro do meu rancho
Olhando lá no banhado jaburu parece ganso
Codorna pia macio e a perdiz pia de avanço ai

A saudade me aperta desde a hora que eu levanto
Deste pobre coração o suspiro sai de arranco
Quando me aperto o nervoso, choro mesmo falo pranto
Tenho fé de ser feliz estou sofrendo por enquanto ai 

Quando queima a camparia forma um fumaceiro branco
Onde vem as andorinhas pro verão de canto a canto
Se estas andorinhas pardas que faz ninho no barranco
Eu divido a flor roxa no brilhar dos pirilampos ai

O que mais me aborrece, é quando aflorece os campos
Encosto a velha canoa, amarrada no barranco
Fico na porta do rancho, sentadinho no meu banco
Passo as mãos de vez em quando, nestes meus cabelos brancos ai...

Patriota
Vinte e seis de fevereiro pra servir eu fui chamado
Novecentos e dezenove até hoje eu tô lembrado
Eu segui para São Paulo eu levei meu certificado
Me apresentei no quartel onde eu fui inspecionado
O doutor de lá me disse você vai dá um bom soldado
Segue hoje pra Caçapava seu lugar designado

Doze meses e quinze dias que eu parei em Caçapava
Lugar frio e de saúde aquele lugar onde eu tava
Depois de todo esse tempo o governo nos chamava
Para ir prestar serviço que a pátria precisava
Tudo o que eu ia passar o meu coração contava
Muitas horas padecia e horas que feliz estava

De Caçapava pro Rio nós seguimos em contingente
Cento e vinte soldados e muitos cabos competentes
E no carro de primeira ia o segundo tenente
Por quem fomos comandados uns chorando, outros contentes
Uns chorava por patife outros por deixar os parentes
Mas quem cair nesse artigo é obrigado a ser valente

Até hoje ainda me lembro o nome do vapor
Que nós fomos conduzidos do Rio à São Salvador
Seiscentos homens e armas fomos tomando o interior
Pra honrar a nossa farda e mostrar nosso valor
Fomos todos equipados pra garantir um doutor
Que no Estado da Bahia queria ser governador

Conheci muitos lugares no navio de passagem
Fui ver coisas que eu não via se não fosse esta viagem
Nós fizemos na Bahia quinze dias de paragem
Muitos lá até choraram vejam que grande bobagem
Quando a pátria nos chama deve ir e ter coragem
Assim como eu também fui e fui feliz na minha viagem

Agradecimento Do Divino
Meu senhor dono da casa Deus veio lhe visitar
Saber da sua saúde a família como está
Saber da sua saúde a família como está

Quando o divino chegou sua casa floresceu
Veio pra lhe dar benção como nosso Divino Reis
Veio pra lhe dar benção como nosso Divino Reis

A pomba veio voando pra sentar na sua mão
Veio lhe pedir pousada agasalho pros irmãos
Veio lhe pedir pousada agasalho pros irmãos

Agradeço a sua esmola dada de bom coração
O Divino recompensa na eterna salvação
O Divino recompensa na eterna salvação

Meu Pedido
Meu bom Jesus eu lhe peço humildemente
Me faça fugir da mente aquela ingrata mulher
Eu não consigo viver mais tranquilamente
Gosto dela loucamente sei que ela não me quer
 
Este é um pedido de um caboclo apaixonado
Que ama desesperado com passado na lembrança
Pois a promessa que ela fez não foi cumprida
Minha alma está ferida já morreu minha esperança
 
Eu não pensava que ela fosse tão maldosa
Foi cruel e caprichosa tudo fez pra me engana
Eu simplesmente nela então acreditava
Nem se quer desconfiava que fingia ao me beijar
 
Eu já não posso aguentar este tormento
É demais meu sofrimento sei que estou chegando ao fim
Jesus querido eu que tanto te adoro de joelho te imploro
Não deixe eu morrer assim

Despedida De Solteiro
Meus amigos e colegas das noites enluaradas
Dos violões em serenatas no romper da madrugada
Hoje dou a despedida pra vocês companheirada
Deixo a minha mocidade aqui nesta encruzilhada
Vocês vão por um caminho eu sigo por outra estrada

Vou deixar a serenata no passado sepultada
No clarão da lua cheia na poeira das estradas
Quando estiver bem velhinho que eu lembrar horas passadas
Dessa vida de solteiro que será sempre lembrada
Muitas lágrimas de dor vai ser por mim derramadas

Pra enfrentar a nova vida levo junto minha amada
A flor que na mocidade do jardim foi apanhada
Vamos seguindo juntinho e levando a vida cansada
Nos destruir como a rosa pelo vento desfolhada
Juntinhos também seguimos pra derradeira morada

Clarineta
Essa minha viola é muito bem feita
Tem as costas de imbuia e na frente é caxeta
É toda marchetada de madeira preta
Ela é bem afinada que nem clarineta

Esta viola é um jogo igual a roleta
Que no nosso espetáculo nós faz a colheita
Nós canta modinha certinho na letra
Nós ganha o dinheiro e recebe as gorjetas

Nós temos umas modas do outro planeta
Canto a noite inteira sem repetir letra
O nosso dueto e igual duas cornetas
Quem não for violeiro com nós não se meta

Se entro na festa função endireita
Os violeiros fracos é que se despeitam
Rosinha, Camélia, Esmeralda e Julieta
Voam do meu lado que nem borboleta

Santo Reis
Santo rei na sua casa, ai, ai, uma esmola vem pedir, ai, ai 
Deixa a bandeira na sala, ai,ai, até na hora de sair

O senhor dono da casa, ai, ai, vem beijar nossa bandeira, ai, ai
Santo Reis vai abençoar, ai, ai, a sua família inteira... 

Agradecemos a esmola, ai, ai,  dada de bom coração, ai, ai
Santo Reis vai ajudar ai, ai, pela sua gratidão... 

O senhor dono da casa traga a bandeira aqui, ai, ai 
Santo Reis já vai-se embora, ai, ai, nos vamos se despedir

Paletó Do Boiadeiro
Um peão de boiadeiro certo dia resolveu 
O seu cavalo de raça na cidade ele vendeu, 
Quatro mil cruzeiros novos foi quanto ele recebeu
Pegando aquele dinheiro falou pro seus companheiros hoje quem paga sou eu 

No primeiro bar que entrou com seus amigos do lado 
Gastou cinquenta cruzeiro do dinheiro arrecadado
No bolso do paletó o resto ficou guardado 
Nesse dia ele abusou tanta pinga ele tomou que ficou desnorteado

Quando chegou na fazenda já era de madrugada
Chegou sem o paletó não se lembrava de nada
Não sabia onde perdeu, falou pra companheirada
O que eu sinto mais na vida, é uma oração da Aparecida que eu trazia bem guardada

O paletó na estrada pelo vento era levado 
Os carreiros que passavam pra não ver os bois assustado 
Chuchava com o ferrão e pros barrancos era jogado 
Até um andante passou Com desprezo ele chutou o tal paletó rasgado

O peão num certo dia por ali tornou a passar 
Com espanto ele avistou no meio de um arrozal
Era um Judas balançando num galho de cambará 
Servindo de espantalho todo molhado de orvalho seu paletó estava lá

Aquele paletó velho que a poeira escureceu 
A pessoa que achou em seus bolsos não mexeu 
Tava lá todo o dinheiro e a oração que ele perdeu 
Sei dizer que depois dessa cumprindo uma promessa nunca mais ele bebeu

Decisão
Já casei de esperar por sua decisão 
Você não diz que eu sim Mas também diz não
Eu não quero ficar nessa ilusão 
Pois não é brinquedo este meu coração

Se você não me que e só me dizer
Não insistir em você me querer 
Pergunto o porque eu preciso saber 
Eu acho que chega de tanto sofrer

Eu nasci no mundo foi pra lhe querer  
Se tem outro amor o que eu hei de fazer 
Se me desprezar vou desaparecer
No braços de outro não quer lhe ver

Músicas do álbum Mãe Amorosa (CONTINENTAL CLP 9140) - (1972)

Nome Compositor Ritmo
Mãe Amorosa Tanabi / Aleixinho Toada Ligeira
Violeiro Gordo Zé Carreiro / Carreirinho Moda De Viola
Sertanejo Solitário Zé Carreiro / Carreirinho Cururu
Patriota Carreirinho Moda De Viola
Agradecimento Do Divino Joel Tavares / Pedro Bento Folia De Reis
Meu Pedido B. Amorim / Platinense Toada
Despedida De Solteiro Zé Fortuna / Carreirinho Cateretê
Clarineta Zé Carreiro / Carreirinho Moda De Viola
Santo Reis Pedro Bento Folia De Reis
Paletó Do Boiadeiro Nelson Gomes / Pero Bento Moda De Viola
Decisão Zé Carreiro / Carreirinho
Compartilhe essa página
Aprenda a tocar viola, acesse Apostila de Viola Caipira Material de qualidade produzido por João Vilarim