Preto E Branco (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9038) - (1962) - Jacó e Jacozinho

Preto E Branco
Preto bebe porque gosta, branco porque aprecia
Mas tem preto e tem branco que não tem essa mania
Preto e branco em nossa terra tem a mesma regalia
O sol nasceu para todos, todos tem a luz do dia
E nos pretos e nos brancos que nosso Brasil confia, ai, ai

A cor que nós tem na pele a natureza quem trás
Tudo aquilo que Deus fez não tem ninguém que desfaz
Seja preto, seja branco nos somos todos iguais
Eu não tenho preconceito tanto fez ou tanto faz
Se tem preto que perturba tem branco chato demais, ai, ai

Mulher seja preta ou branca, grande prestigio desfruta
Por elas preto e branco vivem numa grande luta
Tem preta que muitos brancos por ela sofre e labuta
Tem branca que muitos pretos o seu carinho disputa
Se tem branca que é boa tem muitas crioula enxuta, ai, ai

O que manda é paz na Terra e Glória a Deus nas alturas
Seja preto, seja branco nosso fim é a sepultura
Porque a terra come mesmo não respeita a criatura
Preto e branco estão unidos até dentro da leitura
É com o preto no branco que se faz a assinatura

Porta Fechada
Ao sair pro meu trabalho beijei a mulher amada
Ao voltar de tardezinha já não encontrei mais nada
Encontrei o seu desprezo e a casa abandonada
Encontrei o meu lar triste com suas portas fechadas

Eu pensei em ser feliz com toda a sinceridade
Nosso mundo meus amigos está cheio de maldade
A ingrata abriu pra ela a porta da falsidade
E fechando para mim a porta da felicidade

Calou fundo em minha alma o desprezo deste alguém
Ao me ver desamparado neste mundo sem ninguém
Eu fui ao altar de Deus perguntar pelo meu bem
Mas as portas da igreja estavam fechadas também

Por que será que um homem precisa sofrer assim
Resolvi embriagar-me e nesta dor dar um fim
Também encontrei fechadas a porta do botequim
Somente a porta do mundo estavam abertas para mim

No drama triste da vida desempenho o meu papel
Aquelas portas fechadas me atiraram assim ao léu
Quando acabar minha vida e o meu destino cruel
Eu peço a Deus que não feche pra mim a porta do céu

Não É Moleza
É só gente boa que faz pagode melhor ainda é quem aprecia
Quem enfeita o mundo é as mulher e quem manda mesmo são as Maria
Quem ajuda quem não presta meu velho pai para mim dizia
É dar asa para cobra ela vem morder a gente um dia
Quem dá luz à cego eu vou te falar é bengala branca e Santa Luzia

Quem vendeu a vista ganhou dinheiro e neste mundo vive folgado
Vive na miséria passando fome o vendeiro trouxa que vendeu fiado
Quem dá para os pobres empresta a Deus sempre respeitei o velho ditado
Só ajudo quem merece não quebro o galho é de safado
Só quem quebra galho é tempestade, macaco gordo e Tarzan pesado

No bolso de quem trabalha o dinheiro é manga de colete
Quem explora quem trabalha recebe festa e muito foguete
Na casa do pobre a carne é dura o bife amolece só no macete
A mulher pede um vestido o marido brabo desce o porrete
Mulherada não moleia onça bobeia vira tapete

Os moços de antigamente não era igual os moços de agora
Só falar em casamento ele desiste e já vai se embora
Tenho dó dessas mocinhas que não tem sorte quando namora
Pulando que nem pipoca os resultado a coitada chora
Igual dedo de franciscano os pais das meninas estão por fora

Saudade Também Tem Hora
É triste sentir saudade dos bons tempos de outrora
O pensamento relembra um amor que foi embora
O coração é que sente mas os olhos é que chora
Quanta e quanta saudade eu estou sentindo agora
Sinto o coração no peito querendo saltar pra fora

Sinto saudade da roça, do sabiá no galho de amora
Do bando de andorinha quando vem rompendo a aurora
Saudade da igrejinha do altar de Nossa Senhora
Saudade da mamãezinha aquela santa que se adora
O seu canto de ninar que em pequeno a gente decora

Desde que eu deixei minha terra a saudade me devora
Neste meu peito ferido é aonde a malvada mora
A tristeza e a solidão todas duas me namora
Pra viver sofrendo assim não tem coração que escora
É por isso que eu digo saudades também tem hora

Peão Da Cidade
Eu vi com meus próprios olhos foi num circo de rodeio
Na chegada dos peões que vieram pro torneio
Soltaram tanto foguete que fizeram um bombardeio
Na hora da montaria que o negócio ficou feio
Soltaram um burro famoso que nem sei da onde veio
Era só sentar no lombo cada pulo era um tombo ninguém esquentou o arreio

Surgiu um moço grã-fino do meio da multidão
Pelo traje eu vi que era um homem de posição
Cabelo bem penteado e roupa de exportação
As unhas todas esmaltadas e anel de ouro na mão
Pra montar naquele burro foi pedindo permissão
Pode ser que eu também caio, mas pretendo dar trabalho pra fama desse burrão

Os peão que beijou a terra falaram com precisão
Os grã-finos da cidade quando quer bancar o peão
Não para nem amarrado no lombo de um pagão
Se esse grã-fino montar pode preparar o caixão
O burro tirou do lombo barbado da profissão
Não foi um e nem foi dois vamos ver o pó de arroz bater a cara no chão

O grã-fino entrou na arena calçou a espora de prata
Jogou o paletó na cerca e apertou bem a reata
Sentou no lombo do burro bambeou o nó da gravata
Cortou o burro na espora e foi batendo de chibata
O burrão caiu de costas levantou as quatro patas
O moço saltou de lado e o burro ficou deitado entregue para as baratas

Ganhou aplausos do povo ganhou beijo das meninas
O grã-fino contou a vida bebendo numa cantina
Eu já fui peão de fama lá no estado de Minas
O dinheiro do papai que mudou a minha sina
Eu tenho na minha casa diploma de medicina
To morando na cidade, mas sinto grande saudade que até hoje me domina

Sei Que Não Posso
Queria ser um passarinho pra viver sempre voando
Eu voava pelo mundo eu saia procurando
Queria vem meu benzinho aonde ela está morando
Sei que não posso ai que dor eu sinto comigo
Eu deixar dela eu não deixo esquecê-la eu não consigo

Eu queria ser o sol com seu lindo resplendor
Clareava o mundo inteiro onde estava o meu amor
Talvez assim eu fazia ele sentir o meu calor
Sei que não posso ai que dor eu sinto comigo
Eu deixar dela eu não deixo esquecê-la eu não consigo

Eu queria ser a água rolando pro mundo além
Porque eu não posso mais viver assim sem ninguém
Talvez um dia eu molhava o rostinho do meu bem
Sei que não posso ai que dor eu sinto comigo
Eu deixar dela eu não deixo esquecê-la eu não consigo

Se Deus me desse um poder com a sua proteção
Eu buscava ela pra mim pra matar minha paixão
Apertava em meus braços juntinho do coração
Sei que não posso ai que dor eu sinto comigo
Eu deixar dela eu não deixo esquecê-la eu não consigo

Canção Do Soldado
Do norte eu saí com quinze aos de idade
Fui para uma cidade a paulista capital
Quis ser um policial era meu sonho adorado
Quando me vi fardado senti-me muito feliz
Pra defender meu país o dever de um brasileiro
E assim eu ganhei dinheiro fui feliz e tive sorte
Pra mandar para o norte pra buscar minha mãezinha
Que há tempo eu deixei um dia
Que pra lá ficou sozinha e que há muitos anos nós não se via
 
Um amigo avisou-me que fosse ao cemitério
Que lá no necrotério se achava uma velhinha
E documento não tinha apenas um retrato
Com meu nome exato para lá segui
Quando eu a vi era minha mãe querida
Que arriscando a vida saiu a minha procura
Passou fome e amargura dormindo pelas calçadas
Sem dinheiro quase nua
Numa fria madrugada encontraram morta jogada na rua
 
A cena mais triste que enfrentei na minha vida
Foi ver minha mãe querida inerte num caixão
O meu pobre coração quis saltar fora do peito
Meus sonhos foram desfeitos tão feliz podia ser
Assim mesmo ouvi dizer uma pessoa qualquer
No coração de mulher diz que não existe amor
Minha mãe sofreu horror deu a vida a meu respeito
Vivo triste pelas ruas 
Tirei o luto do peito, mas no coração continua

Eu Sou Do Lari Larai
O meu lari larai é da terra do café
Melodia brasileira que bonita que ela é
O que eu gosto ela não gosta o que eu quero ela não quer
Já vi que meu casamento com você não vai dar pé
Menina, nosso namoro é por isso que não vai
Você é do iê iê iê e eu sou do lari larai

Eu defendo o que é nosso não quero ofender ninguém
Copiar o que é dos outros eu acho que não convém
E se nós não der valor no que a nossa terra tem
Pois os outros lá de fora é que não podem dar também
Menina, nosso namoro é por isso que não vai
Você é do iê iê iê e eu sou do lari larai

Você diz que é moderna nossas modas não tem vez 
Melodia brasileira ainda vai surrar vocês
Tem brasileiro que erra quando fala o português
Tão aí com esta onda querendo imitar o inglês
Menina, nosso namoro é por isso que não vai
Você é do iê iê iê e eu sou do lari larai

Arranjei um novo amor já falei com o seu pai
Na onda que você for eu sei que ela não vai
E com esse novo amor o casamento agora sai
Porque sei que eu e ela somos do lari larai
Menina, nosso namoro é por isso que não vai
Você é do iê iê iê e eu sou do lari larai

Menina Presa
Menina presa que de casa ela não sai
De dia apanha da mãe de noite apanha do pai

Eu sei que entro lá dentro da casa dela
Vou quebrar porta janela nesse dia a casa cai

Eu defendo as meninas no braço desta viola
Elas não são passarinho pra viver numa gaiola

Todos pais que prendem as filhas vão ficar de cara feia
Cantando eu sei que tiro as meninas da cadeia

Até na hora da morte sustento o que falo aqui
Menina que vive presa vive pensando em fugir

Pai e mãe que namorou pra depois poder casar
Ponha a mão na consciência deixa as filhas namorar

Menina presa que de casa ela não sai
De dia apanha da mãe de noite apanha do pai

Rainha Do Paraná
Quando chega a primavera eu vejo a minha tapera toda enfeitada de flor
A rosa me faz lembrar do porto Paranaguá aquele ninho de amor
Da igreja do Rocio onde o romeiro pediu uma graça e alcançou
Não há nada mais divino que o rocio cristalino da noite que serenou

Era o mês de novembro diz a história que eu me lembro a natureza floresceu
Num lindo campo de rosa uma santa milagrosa certa noite apareceu
Ali ergueram um santuário onde a Virgem do Rosário aos aflitos atendeu
Com o orvalho que caiu Santa Virgem do Rocio este nome recebeu

Quando chegam os marinheiros nossos irmãos brasileiros no porto Paranaguá
Ao deixarem o navio vão à igreja do Rocio sua benção implorar
Pedindo felicidade que acalme as tempestades que desabam sobre o mar
Pedem paz e proteção pra que nunca falte o pão na mesa de um pobre lar

Santa virgem do Rocio quem te vê e quem te viu nunca mais esquecerá
Os teus milagres profundos que aos filhos deste mundo vós não cansa de mostrar
Pela graça recebida a lembrança prometida o romeiro vai levar
Pra Senhora Imaculada que um dia foi proclamada Rainha do Paraná

Bom Demais
Telefone é preto e não é café
Eu sou bom na bola e não sou Pelé 
Eu sou bom no tapa e melhor no pé
Eu sou ruim pros homens e bom pras mulher

Tem gente que bebe e não tem controle
Eu vejo no chão eu deixo que role
Tem que benzer no primeiro gole
A pinga derruba é caboclo mole

Lá na minha casa eu sei manda
Briguei com a mulher fiz ela ajoelhar
Minha mulher de joelho reclama 
Para me tirar debaixo da cama

Cabo de machado me faz correr 
O cabo da enxada me faz tremer 
Feijão com arroz eu limpo no prato 
Mas se eu plantar vai morrer no mato

As modas de hoje é bom pros maridos 
Um metro de pano da dois vestidos 
A moda de hoje eu acho feio 
As mulher já senta mostrando o joelho

Vou fazer vestido pra mulherada
O modelo é novo e não custa nada 
Parte da frente pano não tem 
A parte de traz é assim também

Corre-Corre
Fracasso corre pra trás progresso corre pra frente
Também o Sol e a Lua correm o céu diariamente
E o tempo também corre como passa de repente
O povo corre pra casa também corre pro batente
O dinheiro corre mais na mão dos inteligentes

Folha seca também corre pra onde o vento levar
Vento corre sem destino corre pra qualquer lugar
As águas que corre-corre corre pra dentro do mar
O sangue corre na veia fumaça corre pro ar
Minha fama também corre não posso deixar parar

O amor corre pra onde o destino escolheu
Na corrente dos meus braços corre o destino teu
Eu corri o meu olhar no olhar que ela me deu
Corri para os braços dela e ela correu pros meus
Saudade saiu correndo tristeza também correu

O pranto corre no rosto por sentimento profundo
Pensamento também corre vai pra longe num segundo
O suspiro sai do peito vem correndo lá do fundo
A polícia corre atrás de malandro e vagabundo
Meus dedos correm na viola meu pagode corre mundo

Músicas do álbum Preto E Branco (CABOCLO-CONTINENTAL CLP 9038) - (1962)

Nome Compositor Ritmo
Preto E Branco Sulino / Moacyr Dos Santos Pagode
Porta Fechada Moacyr Dos Santos / Tião Carreiro Querumana
Não É Moleza Lourival Dos Santos / Raul Torres Pagode
Saudade Também Tem Hora Sulino / Moacyr Dos Santos Rasqueado
Peão Da Cidade Sulino / Moacyr Dos Santos Moda De Viola
Sei Que Não Posso Marinheiro / Lourival Dos Santos Rojão
Canção Do Soldado Carreirinho Cururu
Eu Sou Do Lari Larai Moacyr Dos Santos / Lourival Dos Santos Corrido
Menina Presa Lourival Dos Santos Cana Verde
Rainha Do Paraná Nízio Cururu
Bom Demais Lourival Dos Santos / Augusto Toscano Pagode
Corre-Corre Moacyr Dos Santos / Zé Batuta Pagode
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