Caipira No Pedaço (PREMIER-RGE 3066015) - (1981) - Galante e Marinho

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Barriga Verde 
Quando vim lá do nordeste passando fome e passando sede
No interior de São Paulo me abriguei num rancho velho sem parente
Ali dormia no chão, pois não tinha cama tão pouco, rede
Só Deus sabe o quanto sofre um nordestino barriga verde

Em São Paulo eu sofri muito arrancando toco e roçando mata
Ganhava cincão por dia pra economizar eu queimava lata
Descalço e com roupa velha não desanimava da sorte ingrata
Eu tinha fé que meu Deus vinha ajudar o cabeça chata

Saudade foi apertando longe dos parentes como eu chorava
Saudade do pai e mãe que lá no nordeste há tempo eu deixava
Eu escrevi duas cartas para os parentes eu enviava
Puz uma dentro da outra se uma não chegava a outra chegava

Mas graças a Deus agora me adaptei na terra paulista
Já sei o que é amor, aprendi até a fazer conquista
Conquistei a paulistinha filha de um capitalista
Qualquer dia eu levo ela para o nordeste e não deixo pista

O Solitário 
Saudade, pranto e tristeza é o que está me acontecendo
Saudade neste meu peito fez morada e está vivendo
Tristeza também chegou logo eu fui entristecendo
Meu pranto estava escondido também foi aparecendo
Como pode um ser humano passar o que estou passando
Sofrendo o que estou sofrendo

Meu passado foi de gosto presente só padecendo
O mundo já não é mundo nada está me oferecendo
Somente cruel desgosto coração está recebendo
Até parece que Deus de mim está esquecendo
Já não é mais como era meu jardim de primavera
Nunca mais vi florescendo

Eu faço o impossível mostrar que não estou sofrendo
Que a paixão virou madrasta me bateu e está batendo
Quem olhar neste meu rosto sei que não está percebendo
Pois vê um falso sorriso no meu rosto aparecendo
Faço tudo e não melhoro mostro alegria por fora
Por dentro está remoendo

Meu viver é solitário e solidão é veneno
Me alimento de saudade, de saudade estou morrendo
Não durmo não tenho sono, nem comer estou comendo
Passo dia passo noite meu passado revivendo
Se não mudar minha sorte peço à Deus que mande a morte
Não posso ficar vivendo

O Caçador 
Vendi minha espingarda, buzina de caçador 
Cachorrada não vendi, mas lá em casa não ficou
Um a um dei de presente foi assim que terminou
Preste atenção meus amigos, exatamente comigo
Esta história se passou

Saí cedo pra caçar muito mal o sol raiou
Achei o rasto fresquinho onde o mateiro passou
Eu soltei a cachorrada vi que o mundo revirou
Numa quiçaça fechada escutei a barroada
Quando o bicho levantou

A caça tem que passar na espera onde estou
No pulador costumeiro nunca ela refugou
Se passar por outro lado até hoje não escapou
Tenho um cachorro valente que aprendeu pegar nos dentes
A caça que desviou

Correndo atrás da caça magrelada enveredou
De longe até parecia boiada que estourou
Foi grande a minha surpresa quando a caça chegou
Ali bem na minha frente um filhote inocente
Nos meus braços se atirou

O filhote viu em mim o seu anjo protetor
Com o bichinho nos braços coração não agüentou
Enfrentei de pontapé meu cachorro pegador
O filhotinho tremendo parecia me dizendo 
Me proteja por favor

Sou humano e tenho alma mesmo sendo pecador 
Nunca mais eu fui caçar meu sentido não deixou
Eu não sei se foi castigo punição que Deus mandou
Esta linda criação trouxe pro meu coração
Um pouquinho mais de amor

Morada Pioneira 
Galpão velho abandonado distante do arraial
Foi a primeira morada do herói primordial
Que desbravou nossas matas numa luta sem igual
Seu nome hoje faz parte da história nacional
Porque em tempo pregresso foste do nosso progresso ai, ai,  a pedra fundamental

Com esteios de aroeira, as paredes de tapume
Folhas secas de coqueiro entrelaçando seu cume
O quintal era cercado pelos cipós em batume 
O jardim era a selva emanando seu perfume
Terreiro era asfaltado pelo pisotear do gado ai, ai, sobre a camada de estrume

O tempo que nunca para no transcorrer dos janeiros
Pouco a pouco foi trazendo o progresso altaneiro
Você seguiu resistindo sol e chuva o ano inteiro
E ao te deixar um dia seu habitante primeiro
Sua história não parou você galpão se tornou ai, ai pousada de boiadeiro

Quem te vê velho galpão recoberto de poeira 
Vê entre tantos tarecos antigas camas de esteira
Cabides feitos de ganchos e uma velha lareira
Um banco todo quebrado que servia de cadeira
Mobilhas do monumento que abrigou no relento, ai, ai a geração pioneira

A Volta do Gumercindo 
Eu fui assistir a festa do peão lá em Barretos
Em frente à bilheteria foi chegando um velho preto
Com muita educação foi dizendo ao bilheteiro
Queria assistir a festa só que não tenho dinheiro

Se o senhor não tem dinheiro não pode assistir a festa
Tem que pagar a quantia a ordem que eu tenho é essa
Se o senhor fosse peão desse conta de montar 
Estaria aqui de dentro não tinha nada a pagar

Cavalheiro me desculpe eu não sei se sou peão
Mas eu já tenho montado em muito burro pagão
O meu nome é Gumercindo isto é coisa muito fácil
Eu sou aquele peão que derrotou o boi palácio

Quem barrou a sua entrada ficou muito admirado
Pra comissão do rodeio logo fui apresentado
A platéia bateu palma pedindo que ele montasse
Ele aceitou a proposta, mas não quis que arria-se

Ele montou numa mula sem sofete e sem arreio
Eu nem gosto de lembrar o tanto que pulou feio
Esta mula parecia ser aquela "Bailarinaâ€
Cortou toda de espora só segurando na crina

Quando a mula se entregou foram vários parabéns
Só de gorjeta de mil eu contei pra mais de cem
Tirou chapéu da cabeça já estava se despedindo
Mostrando os cabelos brancos o adeus do Gumercindo

Bate e Vira 
Na batida do martelo que o couro vira sola
Na batida do pandeiro que a mulata rebola
Toda porca vira porco depois que entra na faca
É no balcão do açougue que o couro vira vaca

Na batida do machado que a tora vira graveto
Na batida da bigorna que o ferro vira espeto
É na batida do sino que o povo vai na missa 
O malandro vai em cana na batida da polícia

Na batida do monjolo que o milho vira fubá
Vira a sorte de quem ganha na batida do azar
Se há briga toda hora, só melhora morar junto
É na batida do chumbo valente vira defunto

É na batida do olho que olhado vira quebrante
Começa a virar o milagre conforme o nome do santo
O jogador vira craque é na batida da bola
Meu pagode vira mundo na batida da viola

Caipira no Pedaço
Para cima e para frente nós não podemos parar
Pra defender o que é nosso unidos vamos lutar
Nossa canção sertaneja nossa música raiz
Vai ser a dona da praça dominando a grande massa
Mandando em nosso país

Nossa moda sertanejas vai liderar posição
Porque temos defensores do rádio e televisão
Defendendo o que é nosso lutando constantemente
Faz com que nossa canção coisa pura do sertão
De muitos passos pra frente

Tem muita gente fingida não sei explicar por que
Gosta de moda caipira e tem vergonha de dizer
Critica nossa canção contrariando seu desejo
Mas quando se vê sozinha liga seu rádio baixinho
Nos programas sertanejos

Nossas modas sertanejas muitos querem ver caindo
Mas estão vendo o contrário nossa música subindo
Quem encostar no pedaço é o chamado caipira
Nós vamos ter novidades discoteque na cidade
E se dançando catira

Duas Rosas 
Eu vendi minha boiada, gado de corte, gado leiteiro
Depois de entregar o gado eu dispensei os meu companheiros
Preciso ficar pra trás, vocês podem voltar primeiro
Nessa cidade de Minas eu vou fazer o meu paradeiro
A noite vou num a festa me divertir nesse chão mineiro ai, ai, ai

A noite eu fui na festa vi uma mineira muito mimosa
Menina muito bonita que parecia um botão de rosa
Eu fui conversar com ela, só fui dizendo frase amorosa
Além dela ser bonita era delicada e boa de prosa
Passeando ao lado dela, passei uma noite bem deliciosa ai, ai, ai

O leiloeiro da festa me fez surpresa de dar calor
Pos uma prenda em leilão que parecia não ter valor
Uma rosa perfumada muito bonita na sua cor
A mineira olhava a prenda e suspirava cheia de amor
Eu olhava na mineira do jeito que ela olhava na flor ai, ai, ai

A flor que estava em leilão por todas moça foi cobiçada
Os moços queria a prenda pra presentear as suas namorada
Pra presentear a morena eu entrei firme nessa jogada
Enquanto eu tiver dinheiro ninguém me tira dessa parada
Se for preciso eu gasto todo o dinheiro da minha boiada ai, ai, ai

Rapaziada dava o lance eu respondia sempre dobrado
Mineira batia palma toda feliz ali do meu lado
Rematei a flor pra ela, o que eu gastei foi bem empregado
Mineira ficou com a flor mas eu voltei muito apaixonado
Só não trouxe ela comigo porque eu já sou um homem casado ai, ai, ai 

Exemplo 
Nossa vida é um drama meu amigo pode crer
Cada uma tem um fim diferente pode ver
Na minha houve um exemplo eu vou contar pra você
Eu ainda era criança meu pai veio a falecer
Deixou dois filhos pequenos e minha mãe padecendo
Pra nos dar o que comer

Eu era muito pequeno quando comecei lutar
Trabalhei de bóia fria pra minha mãe ajudar
E o meu irmão mais velho não queria trabalhar
A vocação que ele tinha era só de estudar
Falava pra nós que um dia que o seu estudo ia
Nossa vida melhorar

Fui crescendo fiquei moço dando duro no pesado
Pra manter o seu estudo olha só o resultado
Meu esforço e o de mamãe logo ele se viu formado
Pouco tempo enriqueceu, o sonho foi realizado
A fortuna que ganhou pra nós nada adiantou
Por ele fomos desprezados

O tempo foi se passando no correr do dia a dia
A sorte nos ajudando Deus em nossa companhia
Na escada do progresso cada vez mais eu subia
Dona de grande fazenda cheia de gado de cria
Tinha fé que meu irmão vinha me pedir perdão
Pela sua covardia

Pois não passou muito tempo já foi visto o resultado
Sua fortuna acabou tudo fora foi jogado
O que ganhava num mês num minuto era gastado
Hoje chora arrependido por um erro praticado
Para seu maior castigo está morando comigo
Hoje é meu empregado

A Menina do Riacho 
No rancho onde eu morava pra baixo do mangueirão
Corriam as águas serenas de um lindo ribeirão
Um dia eu vi banhando a filha do meu patrão
Para mim foi um duelo ver um tesouro tão belo
E não poder por a mão

Eu não tive mais sossego a partir daquele dia
Toda tarde eu esperava e a menina não sabia
Eu já estava escondido quando ela aparecia
Quando eu via a sua anca parecia a garça branca
Que lá no varjão descia

Coisa mais linda do mundo era aquilo que eu via
As lindas flores do campo parecem que se escondiam
Cheguei a sentir ciúme das águas serenas e frias
Eu nem olhava pra baixo enquanto aquele riacho
Seu corpo todo cobria

Vejam bem meus companheiros como é bela a natureza
Só ela pode criar no mundo tanta beleza
Ela não sabe que eu vi, mas podem ter a certeza
Eu não voltei mais pra ver se não eu ia morrer
De paixão ou de tristeza

Despedida de Nortista 
Adeus São Paulo querido, capital dos paulistanos
Eu aqui só tive glória nunca tive desengano
Dos braços deste caboclo meu norte ta precisando
É hoje que vou-me embora vou me despedir chorando
Mas deixo um abraço forte preciso voltar pro norte
Mamãe está me chamando

Eu quero pedir desculpas se faltei com a educação
Se pisei no pé de alguém não foi minha intenção
Se tive uma falta vocês me dêem o perdão
Quando eu saí lá do norte São Paulo me deu a mão
Vou tentar nova conquista, mas levo o povo paulista
Dentro do meu coração

Os nossos bons dirigentes são homens de alma pura
Estão ajudando o norte no comércio e na leitura
Na indústria e na pecuária, transporte e na agricultura
Meu norte está progredindo já é terra de fartura
Os homens de pulso forte querem ver o sul e o norte
Os dois na mesma altura

Pra minha santa mãezinha eu vou fazer companhia
Sentindo a minha falta ela chora noite e dia
Quando estiver distante lá em minha moradia
Vou falar bem dos paulistas e da sua cortesia
São Paulo é bom de fato eu não posso ser ingrato
Com quem me acolheu um dia

Galo Velho 
Galo velho vive triste lembra do passado e chora
Não vai mais ao galinheiro galo velho está por fora 
Não bate asa, não canta quando vem rompendo a aurora
Acabou sua cantiga, quebrou a ponta da espora

Galo velho no seu tempo já mandou no galinheiro
Não deixava frango novo vim catar no seu terreiro
Galo velho era maldoso, além disso, traiçoeiro
Agora ta de dar dó, tem migalha no gogó dorme embaixo do puleiro

Galo velho já cantou bonito pro nosso povo
Galo velho hoje em dia só ta servindo de estorvo
Tem medo até dos pintinhos quebrando a casca do ovo
Pra cantar ele peleja fica morrendo de inveja quando canta o frango novo

Galo velho quer cantar não tem força no pulmão
Se quiser partir pra briga não agüentar o rojão
É na primeira batida galo velho ta no chão
Galo velho jururu ta no bico do urubu na panela de pressão

Músicas do álbum Caipira No Pedaço (PREMIER-RGE 3066015) - (1981)

Nome Compositor Ritmo
Barriga Verde Sulino / Moacyr dos Santos Pagode
O Solitário Sulino / Armando Fernandes Moda De Viola
O Caçador Sulino / Moacyr dos Santos Cururú
Morada Pioneira Sulino / Dr. Antonio Carlos da Silva Cateretê
A Volta Do Gumercindo Galante / Armando Fernandes Moda De Viola
Bate E Vira Benedito Seviero / Sulino Pagode
Caipira No Pedaço Sulino / Delroy / Armando Fernandes Pagode
Duas Rosas Sulino / Moacyr dos Santos Moda De Viola
Exemplo Galante / Waldeci Ferrari Cururú
A Menina Do Riacho Sulino / Moacyr dos Santos Cateretê
Despedida De Nortista Sulino / Moacyr dos Santos Pagode
Galo Velho Moacyr dos Santos / Tião do Carro Pagode
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