Os Índios E A Viola (Volume 4) (CHANTECLER 211405381) - (1981) - Cacique e Pajé
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Poeta Competente
Sou poeta e vivo no rádio, moda boa não me sai da mente
Um assunto que não se conhece eu adoro agradar minha gente
Pra compor e cantar com malícia neste mundo eu nasci competente
Esta viola sempre ajudou e com ela estou enfrentando o batente
Pra compor sempre fui respeitado por eu ser um autor consciente
E não deixo de ser cantador pra manter o meu povo contente
Onde eu entro com meu repertório faço os fãs me abraçar sorridentes
Puxo o pinho pertinho da boca pra ver a cabocla de olhar atraente
A viola eu sempre estimei considero mais do que parente
Ela vive só me acompanhando no repique não há quem agüente
Amanheço com ela no peito em lugares de gente descente
Dá prazer ver o povo abismado ouvindo o ponteado que sai no repente
Gente boa já tem me falado que de fato sou inteligente
Faço moda com simplicidade quem escuta não tem quem não sente
O que tenho agradeço a Jesus de ganhar esta minha patente
Todo o artista que faz o que faço não encontra embaraço na linha de frente
Mulher Do Cachaceiro
A mulher do cachaceiro como sofre esse coitada
Ela é que pula cedo pra tratar da criançada
Faz o serviço da casa e trabalha de empregada
As mãozinhas da mulher já está toda calejada
Só ela que faz bonito porque seu boca de litro tá de pinga e não quer nada
A mulher do cachaceiro tem uma vida sem graça
Lá debaixo da coberta a coitada se embaraça
Se ela cobre a cabeça e ele não lavou o pé que catinga de chulé
Se descobre a cabeça vem o bafo da cachaça, mas que vida que ela passa
Quando ele sai de casa já sai batendo matraca
Chega na porta da venda é ali que ele empaca
A tarde já foi pro brejo e atolou junto com a vaca
Quer bancar o valentão coçando o cabo da faca
Fazem ele de peteca chega em casa só de cueca e já perdeu até a goiaca
A mulher do cachaceiro tem uma vida sem graça
Lá debaixo da coberta a coitada se embaraça
Se ela cobre a cabeça e ele não lavou o pé que catinga de chulé
Se descobre a cabeça vem o bafo da cachaça, mas que vida que ela passa
Pensando Eu Vejo
Pensando eu vejo meus velhos tempos da minha vida tão passageira
Vejo a fazenda Santa Cecília cheia de gado em todas mangueiras
Vejo um terraço cheio de moças vejo um cavalo dentro da cocheira
Este pagão vejo ele pulando e me derrubando na ribanceira
Pensando eu vejo o som do berrante, vejo a boiada e o poeirão
Eu vejo alguém de uma janela com o seu lenço acenando a mão
No pensamento eu vejo o meu pai chegando a espora no seu burrão
Vejo o cargueiro de uma comitiva lidar com gado foi minha paixão
Pensando eu vejo a capelinha naquela estrada eu passava com boi
Ali morreu seu Francisco Chagas meu pai é quem sabe contar como foi
Eu vejo um bando de maritacas e papagaios voando de dois
Vejo a vazante no fundo de casa e naquelas várzeas colheita de arroz
Pensando eu vejo aqueles rodeios e muitas festas que participei
Muitos festeiros por devoção sempre faziam festa de Reis
Naquelas festas o povo animava lembro os carinhos que alguém me fez
É esse alguém que hoje vive ao meu lado e todos os meus agrados a ela eu dediquei
Silêncio Na Aldeia
Calaram sua voz, calaram seu coração
A reserva está de luto, silenciou o sertão
Numa reserva de índios no estado do Paraná
Este fato acontecido fez muita gente chorar
Um cacique valoroso que nunca pensava em guerra
Perdeu a vida inocente defendendo a sua terra
Mas não perdeu sua honra de um índio respeitado
Quem cortou o seu futuro não apagou seu passado
Fumaça que vai pro céu e leva nossa oração
Nosso pranto de saudade também a nossa aflição
Por saber que nunca mais o nosso irmão vai voltar
Mas sabemos que no céu almas puras tem lugar
A cobiça e a ganância para o índio é coisa feia
Perdendo a vida o cacique deixou silêncio na aldeia
Seu nome clama na Terra por justiça e proteção
Mas não clama por vingança não envergonha a nação
Seu grito de agonia ainda tem ecos no sertão
Se escuta aqui na cidade tange o nosso coração
Pros campos da consciência do saber e da razão
Estendei aos irmãos da mata o manto da redenção
Se Deus Tupã lhe chamou pra reserva sem fronteira
No céu brilha nova estrela honrando nossa bandeira
Alicerce Poderoso
Você plantou a maldade tratou com mal intenção
Adubou com falsidade e desconsideração
Preparou uma trincheira com as suas próprias mãos
Pensando que a tempestade não lhe jogasse no chão
Sempre muito imparcial conquistou um pedestal transformado em furacão
Não existe resistência contra as forças divinas
Respeitar o Superior são leis da própria doutrina
Um pecador infiel nosso mundo não domina
Perdoar a ignorância é o que Deus determina
O ditado é muito certo um cristão analfabeto não pensa e nem raciocina
Pra derrubar um império precisa ser poderoso
Um inseto vegetando não se torna perigoso
É diante da verdade que se curva um mentiroso
Um alicerce maciço pra derrubar é custoso
Nunca se julgue maior porque no fim o melhor vai rir muito mais gostoso
Quem é rei é majestade não perde sua coroa
Constrói o seu pedestal através de coisas boas
Ganha a guerra na paz não fala e nem apregoa
E você entrincheirado hoje está caindo à toa
Transformado em tempestade pedindo por caridade para que Deus lhe perdoa
O Chifre Do Boi Soberano
Na cidade de Andradina um boiadeiro chegou
Com mil e quinhentos bois com destino ao matador
Com latidos de cachorro a boiada estourou
Foi grande a correria era só grito que ouvia
Não tinha quem socorria, mas um milagre Deus mandou
A boiada esparramou pelo centro da cidade
Batendo os cacos na rua parecia tempestade
Tinha criança brincando em sua simplicidade
Levaram um grande espanto, foi grito por todo canto
Por milagre de algum santo não houve fatalidade
Apareceu um berrante com um berrante repicando
Naquele mesmo instante a boiada foi parando
Para perto do peão a boiada foi chegando
Era um gadão de raça ficaram todos sem graça
Sem fazer mais ameaça vinham todos berrando
Com o som desse berrante vi muita gente chorando
Cheguei perto do peão e fui logo perguntando
Pela marca do berrante assim ele foi falando
Marca nele não há você pode acreditar
Este berrante que aqui está é o chifre do Soberano
O Soberano morreu mais sua fama ficou
Do couro foi feito um laço que até não quebrou
Do chifre este berrante o meu pai quem fabricou
Recebi como herança guardo ele por lembrança
Eu sou aquela criança que o Soberano salvou
A Lenda Do Caipora
Meu velho avô contava uma história interessante
Diz que depois do dilúvio que acabou com os habitantes
A geração de Noé da Terra foi ocupante
Aquele povo selvagem numa intriga constante
Se dividiram em tribos seguindo rumos distantes
Foi numa daquelas tribos que seu destino seguia
Uma mulher teve um filho no meio da mataria
A pobre mãe faleceu quando o menino nascia
Aquela gente criada dentro da selvageria
Abandonaram a criança naquela selva bravia
Uma grande chimpanzé que perdeu seu filhotinho
No meio da selva bruta encontrou o garotinho
Por instinto dom maternal ou por lembrar do filhinho
Pegou aquela criança com muito amor e carinho
Com o leite do seu peito criou o inocentinho
Criado na selva bruta cresceu valente e veloz
As unhas cresceram tanto que pareciam anzóis
As feras que ele atacava tinha um destino atroz
Ele dominava a fera amarrava com cipós
Depois de surrar bastante soltava o bicho feroz
Daquele tempo pra cá conforme diz a história
Aquele homem selvagem tornou-se o rei da flora
Montado num porco-espinho percorre o sertão afora
Dominando todos os bichos que dentro da selva moram
É o terror dos caçadores conhecido por Caipora
Briga De Mulher
Domingo a tarde eu saí na rua eu vi uma briga fela
Por causa dos linguarudos que falam tudo o que vem na goela
Tem mulher que quando briga o que vem na língua já quer dizer
Quando uma mulher passou a outra insultou
E já começou e o pau quebrou mesmo pra valer
Naquele perepepê vi uma dizer dando um pé no ouvido
Magrela vou lhe ensinar você não olhar mais pro meu marido
Brigaram numa ladeira e ferveu rasteira e pescoção
Saiu pro chão de gadeia, tapa na orelha que cambeleia
Uma hora e meia de confusão
Uma mulher gorda e alta e outra magra como não há
A magrela deu de puxa fez a gorducha se esparramar
Gorducha entrou no couro e por socorro já deu o grito
Seu marido logo veio entrou no meio e serviu de reio
Berrou mais feio do que um cabrito
Magrela foi vencedora e com postura bateu gogó
Falava na vizinhança que na Venância bateu sem dó
Com a boca que nem um fole tomava um gole de uma caninha
Dizendo minha magreza, mas na destreza na redondeza
Eu tenho certeza que sou rainha
Mosca Branca
Num recanto do sertão um desordeiro vivia
Por nome de Mosca Branca o povo lhe conhecia
Levava em seu coração só maldade e covardia
Atacava a residência quando o marido saía
Se a mulher fosse feia ele amarrava e batia
Se fosse mulher bonita se ver ninguém acredita o que o bandido fazia
Na casa de um caboclo certo dia chegou
Vendo a mulher sozinha Mosca Branca aproveitou
A linda flor do caboclo sem piedade desfolhou
Aquele rostinho lindo banhado em pranto ficou
Desejando a própria morte o marido a encontrar
Com o seu coração ferido o que tinha acontecido ao marido ela contou
Caboclo ficou mais bravo do que onça encurralada
E sentiu que a sua vida já não valia mais nada
Jurando honrar seu nome despediu da sua amada
Procurando o marginal saiu por trilha e picada
Andou três dias no rastro sem fazer uma parada
E do barranco de um rio numa canoa ele viu sua caça procurada
Sentindo o frio da morte Mosca Branca reagiu
O céu cobriu de fumaça foi só bala que zuniu
Canoa foi afundando entre as piranhas sumiu
Só uma nuvem vermelha do fundo d'água surgiu
Do coração do caboclo pra sempre a mágoa saiu
Voltou para o seu amor e quem causou tanta dor ficou no fundo do rio
Se Os Animais Falassem
Se os animais falassem que bom que havia de ser
Muitas coisas que acontecem evitava acontecer
Conheci um boiadeiro por nome Zé do Amaral
Tinha um cachorro ensinado que só faltava falar
Viajando pra Mato Grosso na sua besta bragada
Seu Zé levava dinheiro pra comprar uma boiada
Ao chegar numa porteira o boiadeiro não viu
Num pulo que a mula deu sua carteira caiu
Seu cachorro nesta hora pegou então a uivar
Pegando a rédea da besta querendo fazer voltar
Seu Zé não compreendeu amarrou a besta num toco
Deu três tiros no cachorro pensando que estava louco
Um tiro pegou nas pernas e os outros dois na cadeiras
Demorando pra morrer o cão saiu na carreira
Seu Zé foi seguindo atrás até chegar na porteira
Viu seu cachorro morrendo com focinho na carteira
O boiadeiro apeou e apertava cão no peito
Chorando de arrependido daquilo que tinha feito
Levantou os olhos pro céu pedindo a Deus que perdoasse
Não teria acontecido se os animais falassem
Do Que O Boiadeiro Gosta
Do que o boiadeiro gosta em sua longa jornada
É sentir poeira no rosto é o pó-de-arroz da estrada
Sentir cheiro de gado que traz o vento da tarde
Qual o perfume mais caro dos grã-finos da cidade
Do que o boiadeiro gosta é um som sentimental
Do berrante que virou instrumento musical
Em muitos discos que ouve no final de uma canção
O berrante repicando como um grito de sertão
Do que o boiadeiro gosta é nas tardes de mormaço
Fazer um boi pantaneiro rolar na ponta do laço
Do que o boiadeiro gosta é ouvir numa pousadas
Os peões contando casos de estouros de boiadas
Do que o boiadeiro gosta é ver a branca neblina
Que se forma nas baixadas e sobe pelas colinas
Aonde a boiada dorme do espigão às encostas
Gostoso é também gostar do que o boiadeiro gosta
O Folgazão E O Diabo
Lá no estado de Minas um violeiro existia
Numa cidade pequena onde ele residia
Sempre era convidado em todas funções que havia
A sua voz tão bonita muitos corações feriam
Gostava de desafio cantava e sempre vencia
No lugar onde cantava acostumava dizer
Eu sempre canto porfia sem receio de perder
Quando eu pego a viola vou até o amanhecer
Enfrento até o diabo se um dia aparecer
Mas numa noite cantou com o diabo sem saber
Foi lá no salão de festa onde ele estava tocando
Chegou um moço elegante e a todos cumprimentando
Entrando salão à dentro sua viola temperando
Vim conhecer o violeiro que há tempo vem me insultando
E se for bom de verdade vai amanhecer cantando
Se enfrentaram de viola e começaram a cantar
E o povo aplaudiu quatro horas sem parar
O visitante falou vá tratando de entregar
Violeiro igual a você eu já cansei de quebrar
E no fim desta peleja você eu quero levar
O violeiro cantou para derrotar o diabo
A vitória vai ser minha eu estou bem preparado
Porque comigo eu tenho meu Jesus crucificado
O diabo deu um estouro deixando o povo assustado
O violeiro quando lembra fica todo arrepiado
Msicas do lbum Os Índios E A Viola (Volume 4) (CHANTECLER 211405381) - (1981)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
Poeta Competente | Zé Batuta | Moda De Viola |
Mulher Do Cachaceiro | Tião Do Carro / Moacyr Dos Santos | Moda De Viola |
Pensando Eu Vejo | João Ferreira / Ferreirinho | Moda De Viola |
Silêncio Na Aldeia | Cacique / Crisóstomo | Moda De Viola |
Alicerce Poderoso | Cacique / Lolito | Moda De Viola |
O Chifre Do Boi Soberano | Cacique / G. Sampaio / José Rosa | Moda De Viola |
A Lenda Do Caipora | Sulino | Moda De Viola |
Briga De Mulher | Praense | Moda De Viola |
Mosca Branca | Cacique / Jesus Belmiro | Moda De Viola |
Se Os Animais Falassem | Biguá / Taubaté / Teodomiro | Moda De Viola |
Do Que O Boiadeiro Gosta | J. Dos Santos / Zé Fortuna | Moda De Viola |
O Folgazão E O Diabo | Aleixinho / Athos Campos | Moda De Viola |