O Menino E O Carro (CARTAZ LPC5308) - (1982) - Acácio e Cacinho
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O Menino E O Carro
Numa viagem que eu fazia há muitos anos passados
Montado no meu cavalo lá no alto do serrado
Era uma tarde chuvosa o céu estava nublado
O triste cantar de um carro que vinha vindo pesado
Ouvindo o carro cantando e o carreiro a gritar
Na subida do grotão a boiada a caminhar
A carga era pesada vinha vindo devagar
Parei na beira da estrada pra ver o carro passar
Apeei do meu cavalo e a boiada foi passando
Os tamoeiros rangeram e a chuva estava molhando
Carregado de madeira pra cidade ia levando
O carreiro era um menino que os bois ia tocando
Perguntei para o menino pra onde que você vai
Com este carro sozinho aonde está o seu pai
Ele respondeu chorando há tempos não vejo mais
O meu pai já faleceu há muito anos atrás
Meu pai morreu carreando á no alto do espigão
Fiquei com minha mãezinha sou o mais velhos dos irmãos
Esse carro que matou o meu pai do coração
Com este carro assassino que eu ganho nosso pão
Dois Destinos
Na fazenda Usina Ester que morava esta famÃlia
Na sessão da cachoeira aonde eles residiam
Um casal tinham dois filhos que os bons caminhos seguiam
Pra aquelas almas inocentes a vida não florescia
Um tinha apenas onze anos outro nove e alguns dias
Foram no rio tomar banho e a má sorte lhes traÃa
Nas águas do Jaguarà os dois irmãos se perdiam
Se bateram contra a morte suas forças não resistiam
Boiaram três vezes seguidas depois no fundo sumia
Só não morreram abraçados porque o destino impedia
Logo assim que aconteceu foi notÃcia pra famÃlia
Quando sua mãe chegou só tristeza a gente via
Criou com tanto carinho depois na água perdia
Só encontrou suas roupas nunca mais eles existiam
Era o uniforme da escola que no corpo eles traziam
Quando acharam seus cadáveres tinham passado três dias
Estavam bem desfigurado quase não se conhecia
Foi tão tristes seus enterros pro cemitério seguiam
Não separavam na vida na morte também se uniam
Me cortava o coração vendo os caixões que saiam
No tempo das suas infâncias do mundo se despediam
Seu pai ficou quase louco de desgosto nem comia
A morte dos dois filhinhos enlutou sua famÃlia
Hoje eles estão lá no céu junto com a Virgem Maria
Onde vão as almas boas que nesta Terra existiam
O Castigo Veio A Cavalo
Preto velho macumbeiro feiticeiro e vencedor
Era chefe do terreiro da casa de Pai Nago
Seus trabalhos de macumba muita gente confiou
Enganando a humanidade faz a sua falsidade com a mesma moeda pagou
Veja só quanta desgraça que o preto velho causou
Muitas moças se perderam muitos casais separou
Fazendeiro ficou pobre perdeu tudo o que ganhou
Preto velho macumbeiro era um cascavel traiçoeiro seu bote nunca falhou
Malandro tem vida curta o seu fim logo chegou
Numa sexta feira santa que o feitiço virou
Preto velho fez a prece o demônio abaixou
As velas acesas apagava deu um estouro na casa bode preto penetrou
No meio da escuridão numa cena de terror
O povo todo gritava pedindo a paz do Senhor
Castigo veio a cavalo não sei pra onde levou
Acabou-se o macumbeiro preto velho feiticeiro num bode se transformou
Preces A São Francisco
Assim pediu São Francisco em sua prece com muita fé
Ao filho do carpinteiro o home santo de Nazaré
Este pobre pecador também suplica ao mestre Jesus
Nas trevas do meu caminho eu necessito de sua luz
Que pede ao teu santo nome ao bem de outro com fé alcança
Por isso Jesus querido tu és a minha grande esperança
Em minhas curtas passagens por este mundo de ilusão
Eu quero Dino Mestre fazer seu trono em meu coração
É dando que se recebe é perdoando somos perdoados
O ódio não prevalece onde o amor é bem cultivado
Meu Mestre eu me entrego de corpo e alma com muito amor
Porque só em ti reflete a santa imagem do Criador
Porque só em ti reflete a santa imagem do Criador
Derrota Do Boi Brasil
Cidade de Arthur Nogueira num circo de montaria
O popular Pena Branca o dono da companhia
Foi um imenso sucesso quando o circo chegou
Com seus animais bravios e o famoso boi Brasil campeão dos pulador
Em cima desse mestiço ninguém conseguiu parar
Seu lombo era sagrado não era flor de cheirar
Quantos prêmio de valor que o seu dono ofertava
O boi virava um corisco só a poeira do circo que o caboclo levava
Foi num domingo de junho o circo inteiro lotava
Serviço de alto falantes constantemente anunciava
Já se encontra no recinto o famoso boi Brasil
Pro peão que não cair pra ele se divertir tem um prêmio de dez mil
Lazinho quando escutou já desceu da arquibancada
Eu monto nele de graça não preciso ganhar nada
Esse boizinho famoso quero cortar nas esporas
Se eu cair desse mestiço eu abandono o ofÃcio jogo a chilena fora
Pena Branca quando viu o peão se aproximar
Mandou encilhar o boi para o caboclo montar
O bicho estava furioso que até na sombra investia
E a dona Conceição a mãezinha do peão a sua prece fazia
Lazinho montou no boi como um raio ele partiu
Suas rosetas sangradeiras a fera não resistiu
O povo aplaudiu de pé a vitória merecida
O peão foi condecorado boi Brasil foi derrotado desta vez pra toda vida
Saudades Do Velho Carro
Quando eu vejo um velho carro na sombra do angiqueiro
CorroÃdo pelos anos com mais de trinta janeiroÂ
Com cabeçalho quebrado e os cocão já apodreceram
Bem poucas coisas restaram do meu tempo de carreiro
Minha boiada carreira há tempos que já morreu
Mas eu guardei por lembrança o chifre de um boi ligeiro
Uma vara de ferrão, uma canga e um candeeiro
Um laço de dose braças do couro de um pantaneiro
Meu carro cantava triste lá no alto do espigão
Naquelas manhas de frio cortava aquele sertãoÂ
Com quatro juntas de bois passo lento pelo chão
De muito longe se ouvia o gemido dos cocão
No meu tempo de carreiro muitas proezas eu fazia
Quantas toras enjeitada que do mato ela saÃa
Eu gritava com a boiada e os tamoeiros rangiam
Não precisava de auxilio porque Deus me protegia
Aqui dentro do meu peito só a saudade ficou
Quanto mais o tempo passa mais aumenta a minha
Eu não vejo mais boiada e nem carro cantador
Hoje ronca um caminhão onde meu carro cantou
Não Deixe A Vaca Atolar
Diz que o mundo está perdido mas isto não é verdade
Eu acho absurdo criticar a mocidade
Há tanto velho hoje em dia fazendo barbaridade
Não deve julgar ninguém se o mundo não vai bem o culpado ninguém sabe
Não esqueça minha gente que os velhos foram rapaz
No tempo da mocidade deram trabalho aos seus pais
Todos olham no presente o que passou não lembram mais
Desde que o mundo é mundo sempre existe um vagabundo, malandro e marginais
Coisa mais fácil do mundo é criticar as pessoas
Dizem que os mocinhos vivem sempre numa boa
Fazendo os pneus cantar e gastando dinheiro à toa
O divórcio e a falência não é na adolescência é na faixa dos coroa
O estudo é importante o mundo não pode parar
Mata a cobra e mostra o pau de nada vai adiantar
Terreiro que não tem galo frango precisa cantar
Vamos lutar minha gente pra evitar futuramente mais uma vaca atolar
Despedida Do Pracinha
Adeus terra que morei adeus meus queridos pais
Adeus meus grandes amigos eu não sei se volto mais
Vou lutar em terra estranha enfrentar muitos canhões
Vou levar e vou deixar mágoa em seus corações
Minha noiva tão querida vou deixar-te soluçando
Como é triste a despedida espero voltar cantando
Levarei a sua imagem gravada em meu pensamento
Vou levar minha aliança lembrarei todo momento
Minha mãezinha não chore seu filho já vai embora
Vou beijar seu rosto santo quero a benção da senhora
Ganharei muitas medalhas se a vitória eu conquistar
Mas se a bala me atingir o meu sangue ficará
Sorte Tirana
Joãozinho um moço pobre, mas muito trabalhador
Casando na flor da idade numa vila do interior
Com a cabocla bonita parecia uma flor
Assim o destino quis viviam os dois tão feliz naquele ninho de amor
Depois que passou um ano seu destino transformou
Aquela mulher fingida de outro homem gostou
Só por ser um moço rico seu marido abandonou
Deixando seu lar vazio com o moço rico fugiu e o Joãozinho ela deixou
Mas a sorte foi tirana vejam o que aconteceu
Sofrendo um acidente o moço rico morreu
Ficou sozinha no mundo foi triste o destino seu
Com o coração ferido quis voltar para o marido mas ele não recebeu
Ficou jogada na rua numa estrada sem saÃda
Em um triste abandono na miséria sem guarida
E chegando em um bar pegou um copo de bebida
Misturando com veneno chorando ela foi bebendo deu um fim na sua vida
Esta É Que É A Verdade
O leão é o rei da selva mas nunca teve coroa
Muita gente ainda não sabe como é feito uma canoa
Burro xucro não se amansa acostuma com as pessoas
Eu já estou acostumado de ouvir tanta besteira na boca de gente boa
Cascavel pra dar o bote balança o guizo primeiro
A onça pisa macio pra dar o pulo certeiro
Macaco que pula muito um dia cai do puleiro
Tem muita gente caindo pulando em galho seco só por causa do dinheiro
A mulher sendo bonita vira a cabeça do homem
Terreiro que não tem galo pinto não tem sobrenome
Cachorro de muitos donos acaba passando fome
É um ditado muito certo sempre a espiga maior é o pior porco que come
O peru também tem papo seu fim é na caçarola
Quem não gosta do trabalho acaba pedindo esmola
Quem não quer ver assombração não saia fora de hora
Quem procura sempre encontra jogador que muito vibra acaba perdendo a bola
Duplo Castigo
Este fato aconteceu no tempo da escravidão
Com um rico fazendeiro homem ruim de coração
Maltratava tantos os pretos na mais triste judiação
Não sabia este judeu que na presença de Deus nós somos todos irmãos
Os escravos mesmo doentes só tinham que trabalhar
Nem mesmo pra beber água não permitia parar
Sentindo a dor da sede sem poder não reclamar
O carrasco ali do lado com o chicote trançado prontinho pra castigar
Mas tem um velho ditado que todos conhecem bem
É a justiça Divina mais cedo ou mais tarde vem
E veio uma grande seca castigo lá do além
A terra se garrajava e a água que ele negava faltou pra ele também
Morreu o pobre pretinho sorrindo o patrão pegou
Uma moeda de um tostão no seu caixão colocou
Me compre um tostão de chuva pretinho faça o favor
Se é lá que existe Deus pergunte se ele perdeu o bico do regador
Quando foi dali três dias novo castigo chegou
O céu azul estrelado na mesma hora enlutou
E veio uma tempestade que a fazenda arrasou
Derrubando o que encontrava e as criações que restavam a enchente carregou
No outro dia o patrão sobre a mesa encontrou
Cinquenta réis e um bilhete quando leu até chorou
Esse é o troco da chuva que o senhor encomendou
Era pra vir um tostão mas nosso Deus que é bom só a metade mandou
Burro Ruano
Lá no bairro aonde eu more tem um macho redomão
É um ruano perigoso que matou quatro peão
Quando eu soube da notÃcia me deu uma grande aflição
Eu quero amassar esse burro de deixar a rédea no chão
Veja só que pensamento que coisa eu destinei
Eu nunca fui domador em burro eu nunca montei
Mas nunca soube o que é medo perigo eu sempre enfrentei
Eu quero montar no burro se eu caio eu monto outra vez
Já foi no dia seguinte bem cedo eu levantei
Eu fui comprar o ruano trinta conto eu paguei
Foi só nós fechar o negócio em pelo nele eu montei
Eu dei um tapa na orelha e na espora juntei
O povo pegou de grito quando viu o macho pular
Não assuste minha gente que este burro vai pregar
E depois que estiver manso uma coisa eu quero ensinar
Quando ver moça bonita abaixar pra ela montar
Hoje para o meu custei tenho um macho de primeira
Quando vê moça bonita ele encosta na porteira
Se montar um marmanjão o malvado faz besteira
Na garupa do ruano só monta moça solteira
Músicas do álbum O Menino E O Carro (CARTAZ LPC5308) - (1982)
Nome | Compositor | Ritmo |
---|---|---|
O Menino E O Carro | Tolentino Dos Reis | Querumana |
Dois Destinos | Zé Tiguera | Toada |
O Castigo Veio A Cavalo | Tolentino Dos Reis | Cururu |
Preces A São Francisco | Nho Tié | Querumana |
Derrota Do Boi Brasil | Tolentino Dos Reis | Moda De Viola |
Saudades Do Velho Carro | Tolentino Dos Reis | Moda De Viola |
Não Deixe A Vaca Atolar | Tolentino Dos Reis | Cururu |
Despedida Do Pracinha | Nho Tié | Toada |
Sorte Tirana | Irineu Dos Reis / Acaçio / João Branco | Cururu |
Esta É Que É A Verdade | Tolentino Dos Reis | Pagode |
Duplo Castigo | Nho Tié | Moda De Viola |
Burro Ruano | Acaçio / Zeno Capato | Moda De Viola |